A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas gerou um impacto imediato no cenário financeiro global nesta quarta-feira (6), com forte elevação dos juros futuros nos Estados Unidos e disparada do dólar frente a outras moedas.
Os juros futuros refletem as expectativas do mercado sobre as próximas decisões do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, para a taxa básica de juros. Esses juros servem como referência para os rendimentos das Treasuries, títulos públicos dos EUA amplamente considerados os investimentos mais seguros do mundo. Com o aumento da rentabilidade das Treasuries, investidores internacionais buscam alocar recursos no país, elevando a força do dólar no mercado global.
No início da manhã, o rendimento das Treasuries de 10 anos - que representa a expectativa de retorno para a próxima década - saltou para 4,47%, o maior nível em quatro meses. Já os títulos de dois anos avançaram para 4,31%. O mercado havia se preparado para a vitória de Trump na semana anterior, com os títulos de 10 anos chegando a 4,388%.
A projeção de juros mais altos decorre da proposta econômica de Trump, que defende o protecionismo para a indústria americana e o aumento das tarifas sobre produtos importados. Essas medidas podem resultar em uma escalada de tensões comerciais, especialmente com a China, e afetar as exportações de importantes parceiros comerciais dos EUA, como Brasil e México, elevando os preços globais em decorrência de taxas adicionais.
O índice DXY, que mede a valorização do dólar frente a uma cesta de moedas internacionais (euro, iene, libra esterlina e dólar canadense), registrou alta de 2% na manhã desta quarta-feira, reforçando o fortalecimento da moeda americana.
Reflexos no Brasil
No Brasil, o impacto também foi sentido: o dólar alcançou R$ 5,8619 no pico da manhã, mas recuou ao longo do dia. Às 13h30, a moeda operava em queda de 0,64%, a R$ 5,7098. A desvalorização do real, que já estava em curso, foi intensificada pela cautela dos investidores em relação ao cenário fiscal brasileiro.
Mesmo antes da eleição americana, o real vinha perdendo força, impulsionado pela falta de anúncios de cortes de gastos pelo governo federal. Esse contexto de incertezas fiscais, com um déficit crescente nas contas públicas, eleva o risco percebido pelo mercado e, consequentemente, a necessidade de juros mais altos para atrair investimentos ao país.
O governo brasileiro, no entanto, vem sinalizando que está em fase final de discussões sobre cortes fiscais, conforme afirmado recentemente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A expectativa é que medidas concretas sejam anunciadas em breve, o que poderá acalmar parte dos temores do mercado.