A Polícia Militar da Bahia indicou a demissão do major Gilfer dos Santos Nascimento. Ele foi condenado pela justiça comum por extorsão contra um escritório de advocacia que tinha como sócio o ex-procurador da República, Augusto Aras. A decisão, assinada pelo comandante-geral da PM, coronel Paulo Coutinho, foi publicada nesta quarta-feira (25) em um Boletim Geral Reservado da corporação.
De acordo com a denúncia, foi em 2010 que tudo começou. Gilfer, que chegou a se candidatar a vereador da capital em 2012, teria ido ao escritório de Aras, que também era chefiado pelo já falecido Roque Aras, oferecer causas de policiais dos quais ele tinha acesso que poderiam ser "vencidas" na Justiça da Bahia, envolvendo a Fazenda Pública. Os advogados aceitaram, mas o então oficial da PM queria sempre mais dinheiro.
A denúncia fala em ameaças e extorsão contra, além do escritório, o sócio Antônio Otto Correia Pipolo. A reportagem do Portal do Casé obteve acesso a um trecho da denúncia, que foi formalizada pelo Ministério Público da Bahia.
"No início do ano de 2010, o major PM Gilfer teria solicitado ao sargento/PM da reserva, e hoje motorista [nome] que o apresentasse ao escritório do doutor Roque Aras, vez que, na qualidade de servidor público, tinha causas a serem ajuizadas contra o estado da Bahia. Na verdade, asseverava o major Gilfer ter bom relacionamento com algumas associações e, por isso mesmo, poderia exercer influência sobre seus representantes, para que contratassem os serviços do escritório Roque Aras, Advocacia e Consultoria".
Na decisão que pede a demissão do major, assinada nesta quarta, a corregedoria da PM confirmou que Gilfer foi condenado pela extorsão.
“Consta nos autos o acórdão prolatado pela primeira Turma da Primeira Câmara Criminal, dando provimento ao recurso ministerial para condenar o ocorrido, acusado deste PAD, como incurso nas sanções dos artigos 158 e 71, impondo-lhe comprimento de pena definitiva de três anos e oito meses de reclusão e pagamento de 65 dias-multa [...]”, resume.
"Por último, não cabe discussão, no âmbito administrativo, em relação ao mérito da investigação, uma vez que o fato e a tese em questão já foram abordados no processo criminal [...]", conclui o documento.
No ano de 2019, o jornal Estado de São Paulo fez uma reportagem sobre a situação. De acordo com a publicação, o major Gilfer trabalhava junto com desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia, envolvidos na "Operação Lava Jato", para extorquir e ameaçar. Na época em que os casos teriam ocorrido, Aras ainda atuava como advogado, na Bahia e Brasília.
O caso ficou mais de 10 anos na Justiça da Bahia. Em 2017, o então major foi absolvido das acusações, mas os advogados recorreram no próprio TJ e Superior Tribunal de Justiça. A denúncia de Aras, na época, citava ainda a desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia Maria das Graças Osório Pimentel Leal, e Gesivaldo Britto - ambos denunciados na "Faroeste" -.
A reportagem procurou os envolvidos, que não tinham se pronunciado até a publicação desta matéria.