O que era para ser trabalho virou drama para a família de dois jovens, de Salvador. A dupla é formada pelos amigos Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento, de 24 anos, e Matusalém Silva Muniz, 25. Ambos tinham vínculo empregatício com uma empresa de ferro-velho, que fica às margens da BR-324, já no bairro de Pirajá. Desde a segunda-feira (4), familiares não sabem onde os dois foram parar. Abaixo, você vai saber tudo o que se sabe desse sumiço.
ONDE OS DOIS TRABALHAVAM?
A mãe de Paulo Daniel é Marineide Pereira, que tem se tornado uma ativa voz pela busca dos rapazes. Segundo ela, o filho estava trabalhando após ver a oferta no site OLX. O anúncio, inclusive, ainda está ativo. A firma é a Prometais Comércio e Serviços de Reciclagem, e está em nome de Marcelo Batista da Silva. Segundo a Receita Federal, foi fundada em 2012 e tem capital social de R$ 50 mil. É Marcelo o apontado pelas famílias pelo sumiço.
Na segunda-feira, nas primeiras horas de desaparecimento dos dois, policiais militares da 9ª Companhia Independente (CIPM/Pirajá) foram acionados e chegaram a entrar no galpão. Porém, nada foi achado. Somente na quinta-feira, militares do Corpo de Bombeiros usaram cães farejadores para tentar achar corpos em terrenos que ficam ao lado de onde funciona a Prometais. Naquele momento, eles não tinham mandado para entrar no local.
Na madrugada desta sexta, um carro, que seria de Marcelo, foi incendiado. O automóvel, da marca Volvo, está em nome de Emerson Néris de Santana, segundo apuração do Portal do Casé. Uma perícia foi realizada no automóvel, já durante a tarde.
O QUE MARCELO ALEGA
O empresário deu uma entrevista à TV Bahia, também nesta sexta. Ele nega que seja o responsável pelos desaparecimentos. Marcelo Batista informou que flagrou, no domingo, um furto no local. Matusalém e Paulo Daniel estariam ajudando a carregar o objeto do crime, cerca de 500 quilos de alumínio. O dono da Prometais, porém, relatou que fez um acordo com a dupla, para que um novo furto ocorresse na terça-feira e ele desse flagrante, com a polícia.
"Eu liberei os dois, meu funcionário e o encarregado estão como testemunhas. Ele [Paulo Daniel] saiu falando pelo celular. É só rastrear o aparelho e ver o percurso que ele fez, que vai constatar que ele saiu da minha empresa", disse, à TV Bahia. O empresário ainda relatou que o furto foi registrado na 4ª Delegacia Territorial, de São Caetano.
EX-FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM TORTURAS
Após a situação ter sido exposta, ex-funcionários resolveram denunciar torturas que aconteciam frequentemente dentro dos portões da Prometais. Marcelo, inclusive, respondeu a um processo, em 2017, movido por dois colaboradores.
"Aduz que as supostas vítimas teriam afirmado, em sede de declarações, que o proprietário da referida empresa, da qual eram funcionários, no intuito de descobrir os autores de um furto de sucatas e cobre, os algemou e aplicou-lhes golpes em diversas partes do corpo, com um barrote, realizando intenso interrogatório, sob ameaça de arma de fogo, causando-lhes lesões na cabeça, braços e mãos", narrou a Polícia Civil à Justiça da Bahia.
"Alega, ainda a autoridade policial, que o autor do delito é contumaz na prática de tratamento violento de seus funcionários", completou.
Na época, o juiz Cláudio Césare negou que a empresa fosse alvo de busca e apreensão. "Nesta senda, ao menos neste momento processual, não há no presente pedido documentos aptos a comprovar que as supostas lesões corporais sofridas pelas vítimas foram de natureza grave, necessária para atração da competência de vara de crimes comuns, como esta 10ª Vara Criminal", entendeu o magistrado.
O QUE FALA A POLÍCIA?
Na tarde desta sexta-feira, a delegada-geral da Polícia Civil da Bahia, Heloísa Brito, divulgou um vídeo à imprensa, falando do desaparecimento de Daniel e Matusalém. "Estamos fazendo oitiva dos familiares e das pessoas que tiveram último contato com esses jovens. Estamos trabalhando com todos os recursos de inteligência policial. Os policiais estão fazendo diligências em campo. Estamos avaliando todas as possibilidades possíveis", disse.
"Nesse momento, cabe à Polícia Civil apurar todas as vertentes. Inclusive, checamos todos os dados que nos são trazidos, como fizemos ontem uma diligência com o Corpo de Bombeiros, em Pirajá. Então, neste momento, é importante que, qualquer pessoa do povo, que tenha informação, denuncie. Não precisa se identificar, por meio do número 181. Toda informação será checada", informou, ainda, a delegada.
Heloísa Brito ainda confirmou que Marcelo será ouvido no Departamento de Homicídios. "Tenho certeza que, com empenho dos policiais da nossa equipe, chegaremos à conclusão do que aconteceu com esses jovens. Óbvio que, nas investigações, vamos precisar ouvir o dono do galpão onde esses jovens trabalhavam. Todas as pessoas que tiveram contato mais recente com esses jovens precisam e vão ser ouvidas no bojo desta investigação criminal".