A vida terrena nos proporciona dois grandes acontecimentos: o nascimento e a morte. Não há ser humano que nunca procurou, ou tem procurado, erguer o véu da morte. Não sendo uma opção, tampouco uma possibilidade, a certeza da morte gera no indivíduo medo e pânico, em consequência do aviltante conceito de vida circunscrita entre o berço e o túmulo.
Nascimento e morte são os pontos iniciais: nascimento, para uma vida em um mundo de provas e expiações, buscando o aperfeiçoamento de nossas faculdades morais e intelectuais; e morte, para a verdadeira existência! Não há uma demarcação nitidamente traçada entre a vida corpórea e a vida espiritual.
Agimos e vivemos de acordo com as nossas convicções religiosas, filosóficas, científicas, sendo a morte apenas um parto destes condicionamentos que nos impomos ao longo da vida corpórea. Esmagadora maioria dos encarnados, condicionaram-se na finitude da vida corpórea e da vida psíquica.
Este conceito de que a vida acaba na tumba é muito primário: deixa a vida sem sentido, sem razão de ser. Se tudo acaba com a morte, para que pensar, raciocinar, adquirir conhecimentos, empenhar-me para cativar as pessoas, esforçar-me para crescer moralmente, sendo que vou morrer e tudo acabará?
Neste conceito, as mais nobres faculdades, as mais generosas tendências do espírito humano acabariam por fenecer completamente com a morte. Nos elucida o filósofo Léon Denis no livro O Porquê da Vida: “se as perspectivas da imortalidade não vêm esclarecer a nossa existência, o homem não tem outra lei que não seja a dos instintos, dos seus apetites, dos seus gozos”.
Quem primeiro cuidou da educação para morte foi Allan Kardec, e como nos esclarece, devemos encarar a morte sob o seu verdadeiro ponto de vista. A morte não é o fim, é apenas o recomeço. Afinal, há vida antes da vida. Ou, como bem disse o autor de O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis, “a morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução das nossas existências; mas, basta esse instante para revelar-nos o sentido grave e profundo da vida. A própria morte pode ter também a sua nobreza, a sua grandeza. Não devemos temê-la, mas, antes, esforçarmo-nos por embelezá-la, preparando-se cada um constantemente para ela, pela pesquisa e conquista da beleza moral, a beleza do Espírito que molda o corpo e o orna com um reflexo augusto na hora das separações supremas. A maneira pela qual cada um sabe morrer é já, por si mesma, uma indicação do que para cada um de nós será a vida do espaço.”
Por Samir Abdalla