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Arqueólogos iniciam escavação de cemitério histórico de escravizados na Pupileira, em Salvador

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Da redação

A data escolhida para o início dos trabalhos coincide com a Revolta dos Malês, considerada o maior levante de pessoas escravizadas da história do Brasil, ocorrido em 1835.

Arqueólogos iniciam escavação de cemitério histórico de escravizados na Pupileira, em Salvador
Divulgação/Flávia Maciel

Sob chuva intensa e marcado por uma cerimônia inter-religiosa, teve início nesta quarta-feira (14), em Salvador, a escavação arqueológica que busca localizar um antigo cemitério de escravizados na região da Pupileira, área central da capital baiana. A data escolhida para o início dos trabalhos coincide com a Revolta dos Malês, considerada o maior levante de pessoas escravizadas da história do Brasil, ocorrido em 1835.

A ação é coordenada pelos arqueólogos Jeanne Almeida Dias e Railson Cotias, da Arqueólogos Consultoria e Pesquisa Arqueológica. O objetivo é encontrar vestígios ósseos e materiais históricos ligados ao antigo Cemitério do Campo da Pólvora, que teria funcionado por mais de um século, recebendo corpos de pessoas escravizadas, indigentes e possivelmente mártires do levante dos Malês.

“O projeto surgiu a partir da localização do antigo cemitério em pesquisas documentais feitas pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri. A escavação começa com a remoção da camada de brita e segue com o uso de ferramentas leves, como pás de madeira, plásticos e pincéis, para preservar o material encontrado e ajudar a resgatar a história e a memória do nosso povo”, explicou a arqueóloga Jeanne Almeida.

A pesquisadora Silvana Olivieri contou que cruzou dados de cinco mapas antigos de Salvador com imagens de satélite e documentos históricos. “Foi por meio da sobreposição dos mapas e da leitura de registros do século XIX que conseguimos delimitar o local com precisão. Entre os documentos, encontramos relatos diretos sobre enterros e a história da área”, detalhou.

A escavação ocorre com autorização da Santa Casa da Bahia, responsável pelo Conjunto da Pupileira, e será acompanhada por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A cerimônia de abertura contou com representantes de religiões de matriz africana, católicos, evangélicos, membros do movimento negro e autoridades públicas.

O local das escavações está a poucos metros do Campo da Pólvora, onde, em 14 de maio de 1835, foram executados quatro homens negros africanos – Jorge, Pedro, Gonçalo e Joaquim – considerados mártires da Revolta dos Malês.

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