O choro de uma mãe, que por muitas vezes foi de tristeza, correu pelo rosto de Petra Kayane da Silva Santos ao abraçar o próprio filho, de oito anos. O encontro, na segunda-feira (25), colocou fim a uma espera que durou dois anos e oito meses. A mulher estava afastada do menino por conta de uma ação judicial movida pela mãe dela, avó da criança.
"Era tudo que eu estava esperando. Quando entrei na Vara [de Justiça] e o peguei, ele já veio me abraçando e chorando. Também chorei e disse que o amava muito, afirmando que ele é tudo para mim. Ele só sabia que eu tinha o deixado. Comecei a falar várias coisas e ele me dizendo que estava só me procurando. Meu filho me perguntava o motivo de eu não visitar ele. Me disse ainda que me ouviu uma vez, gritando na porta do condomínio, mas não deixaram ele sair de casa", relembrou Petra.
Para entender essa história, é preciso voltar no tempo. Apesar da relação conturbada com a mãe desde pequena, há dois anos e oito meses Petra ainda mantinha contato com ela. Foi em uma tarde de sexta-feira que, ao pedir para a senhora buscar o menino na escola, começou o pesadelo.
"Meu outro filho caiu da cadeirinha de alimentação e levei na emergência. Pedi para ela pegar meu filho na escola e não me devolveu mais. Depois, atendeu uma ligação dizendo que iria tomar meu filho, afirmando que estava no Conselho Tutelar. Minha própria mãe desligou o celular e me bloqueou nas redes sociais", sustentou. Como o caso aconteceu em uma sexta, Petra já teve ali o primeiro final de semana sem se encontrar com o menino.
"Demos queixa de sequestro. Minha mãe fez corpo de delito na criança, que sai em três meses. Fiquei desesperada. Na porta da casa dela, tentou me filmar dizendo que eu tinha problemas mentais, para anexar no processo. Eu não sabia que já tinha, inclusive, um processo contra mim, para tomar a guarda. No corpo de delito, foi comprovado que meu filho não tinha sido espancado. A delegada mandou ela comparecer na DERRCA. No mesmo dia, se negou a ir", disse Petra.
Como já tinha um processo correndo no Tribunal de Justiça da Bahia, movido pela avó, Petra perdeu a guarda do filho.
"A avó entrou com ação de guarda para destituição do poder familiar. Conseguiu, em uma decisão judicial", explica o advogado de Petra, Antônio Jorge Júnior. E o processo demorou. "Procurei um advogado, antes, mas ficou parado. Depois, com Jorge, em 24 dias, estava tudo certo, com audiência marcada. Foi feito estudo social e ficou constatado que a criança estava sendo instruída pela avó, e que eu não tinha problema nenhum", contou a mãe do menino.
"JULGO IMPROCEDENTE a presente ação por não haver prova de que a genitora não tenha condições emocionais, psicológicas e nem financeiras de exercer o poder familiar de forma regular, sendo o fato afirmado com violência física aqui entendido como ‘forma isolada’, que não permite enquadramento como alegado forma imoderada", entendeu o juiz responsável por julgar a ação, Walter Ribeiro Costa Junior.
A criança tem três irmãos. A mais nova, de 1 ano, não conhecia. "Pensei que ele voltaria rebelde, mas foi tudo ao contrário. É como se a gente não tivesse saído de perto. Ele não sabia que tinha uma irmã. Eu não o via sequer por chamada de vídeo. Nem sabia onde ele estava. Foram quase três anos sem contato. Ele chegou aqui em casa e o apresentei. Ele viu a irmã e abraçou", comemora Petra.
Apesar de a avó ter recorrido da decisão, Petra não quer mais perder o filho. "Espero que, de fato, eu fique com a guarda do meu filho definitiva, e que eu possa ter paz. Recentemente, ela abriu outro processo para revogar essa busca e apreensão", finalizou.