Salvador volta seus olhos para a força criativa das periferias neste sábado (13), quando o campo de futebol do Parque São Braz, na Federação, se transforma em passarela, palco e ponto de encontro da primeira edição do Festival SSA40graus. A partir das 16h, o público será convidado a viver uma experiência que une moda, música e cultura em um ambiente que celebra a estética, a economia e o imaginário das quebradas soteropolitanas.
A proposta é mostrar como a criatividade que nasce nas favelas ultrapassa fronteiras, afirma identidades e cria tendências capazes de redesenhar o presente e inspirar futuros.
Selecionadas para representar esse ecossistema vibrante, quatro marcas compõem a programação do evento. Todas elas receberam aporte financeiro do festival para desenvolverem coleções exclusivas, que serão lançadas em desfiles-shows. Da resistência que move o Nordeste de Amaralina surge a PPP, criada por Elton Obcecado em meio à pandemia. A marca transformou a linguagem das ruas em manifesto visual, apoiada no universo do Hip-hop e em referências culturais que exaltam líderes e movimentos de luta. No festival, apresenta a coleção “Passa nada e nem pode”, que retorna ao centro da rua como território de afirmação por meio de camisetas exclusivas em algodão de alta qualidade. A coleção dialoga com o álbum lançado pelo artista e assume papel de narrativa coletiva que reforça o empoderamento e a autoestima do povo preto.
Do Caminho de Areia, na Cidade Baixa, a Nilo Company, criada por Wil da Nilo, reafirma a moda urbana como movimento. Fundada em 2020, se consolidou como marca que dialoga com a cultura de rua, oferecendo peças confortáveis e acessíveis sem abrir mão de qualidade e propósito. A coleção Nativa, nona da trajetória da marca, chega ao festival como celebração da ancestralidade brasileira por meio da fauna nacional.
No Subúrbio Ferroviário, em Plataforma, a Unique, das criadoras Luana Vitória e Nicole Menezes, nasce da inquietação sobre pertencimento e acesso. A marca, que transita entre o sportswear elegante e o slow fashion, transforma histórias reais da comunidade em peças que questionam por que a ideia de “chique” ainda parece distante da periferia. Para esta edição do festival, a Unique apresenta a coleção Corpo-Máquina, um encontro entre o boxe e o motocross que associa proteção, potência e elegância. A coleção assume o vestuário como armadura e mistura silhuetas oversized e ajustes inspirados nas faixas de boxe, em peças de tactel, neoprene, malhas esportivas, alfaiataria, jeans, transparências e brilhos metálicos.
De São Caetano, a ATAUAN, dirigida por Tauan Carvalho, une memória e futuro em uma marca que trata a roupa como gesto sagrado. Com quase uma década de experiência na criação sob medida com a Bixa Costura, Tauan apresenta a marca como um assentamento simbólico do fazer manual, da liberdade criativa e da ancestralidade que molda sua trajetória. A coleção DAGOMÉA, que homenageia os 111 anos de Joãozinho da Goméia, propõe uma leitura afrofuturista do legado do “rei do candomblé”.
Diversidade sonora
A música também ganha destaque na programação. O rap chega ao palco com Áurea Semiséria, artista de Cajazeiras que desde 2014 se firma como uma das vozes femininas mais potentes da cena independente. O pagodão aparece com Deuel, nome em ascensão que traduz a energia das ruas, enquanto o trap ganha corpo na performance de Biel Gomez. O público também encontrará a vibração intensa do Selva Paredão, presença conhecida em eventos populares e símbolo do pulsar sonoro que marca a identidade da cidade.
Além dos desfiles-shows, que serão transformados em produtos audiovisuais, o festival abre espaço para os empreendedores das quatro marcas exporem e comercializarem suas peças em estandes próprios, fortalecendo a economia da moda produzida nas periferias. O elenco de modelos, selecionado por chamada pública, expressa a diversidade de corpos, gêneros, tons de pele, traços e cabelos que compõem a Salvador real, ampliando o horizonte de representações possíveis.
Produtora executiva do festival, Luiza Ninov destaca a importância de reunir potências criativas, negras e periféricas de diversos segmentos da cultura que movimentam diferentes territórios de Salvador, além de levar projetos culturais para outros bairros da cidade. “O Festival SSA40graus surge do desejo de valorizar a estética, a beleza e a criatividade dos nossos e de construir ideias em que somos protagonistas dos nossos sonhos. No campo de futebol da vila, a passarela e o palco se encontram para celebrar nossa existência por meio da arte, da cultura e da criatividade. Isso é gigante!”, ressalta.