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Imortal da ABL, Antonio Cicero morre aos 79 anos e deixa carta de despedida

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Da redação

Antonio lutava contra Alzheimer e, nos últimos dias, as consequências da doença se agravaram

Imortal da ABL, Antonio Cicero morre aos 79 anos e deixa carta de despedida
Chico Cerchiaro/ABL

O poeta e filósofo carioca Antonio Cicero morreu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos. A informação foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras, instituição que o escritor ocupava uma cadeira desde 2017.

Antonio lutava contra Alzheimer e, nos últimos dias, as consequências da doença se agravaram. Em uma carta, divulgada depois da morte, o poeta confirma que fez eutanásia - ato de provocar a morte sem sofrimento.

"O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi", escreveu o artista.

Cicero faleceu em Zurich, na Suíça, sob os cuidados da Associação Dignitas e ao lado do marido, Marcelo Pies. Antes disso, viajou para Paris, cidade que tanto amou e que o inspirou.

VEJA, NA ÍNTEGRA, A CARTA DE DESPEDIDA 

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia.

O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços! – Antonio Cicero, 2024

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