Uma pesquisa de outubro de 2023 feita pelo Cetic.br, centro de estudos ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostrou que crianças e adolescentes estão se conectando cada vez mais cedo ao mundo digital. Noventa e cinco por cento das pessoas entre 9 e 17 anos acessam a internet. A maioria usa o celular para isso. 24% delas começam a usar a internet antes dos seis anos. Em 2015, esse percentual era de 11%.
Preocupadas com o uso precoce e excessivo de celulares e redes sociais por crianças e adolescentes, famílias uniram-se para criar o Movimento Desconecta e atuar coletivamente para mudar o rumo dessa história. O projeto começou com a criação de um grupo de WhatsApp na escola dos filhos para conversarem sobre o tema. Desse grupo, seis mães se juntaram e decidiram trazer o tema a público com a proposta de motivar a todos gerando um grande acordo entre as famílias: não dar celular para seus filhos, pelo menos até 14 anos e acesso a redes sociais pelo menos até 16 anos.
Em apenas dois meses, essas vozes ecoaram, tornando-se um movimento com mais de 20 mil seguidores no Instagram. A primeira reunião online (Live), aconteceu em 4 de junho, para apresentar o Movimento Desconecta a interessados de outras escolas e explicar como levá-lo para suas respectivas comunidades. No total foram 1800 pessoas inscritas, de 360 escolas públicas e privadas, de 88 municípios e 18 estados, o que foi uma surpresa às fundadoras.
"O Movimento vem crescendo de maneira surpreendente. Não estava nos nossos planos iniciais expandir tão rapidamente, mas ao perceber o grande interesse de tantas famílias, entendemos que havia uma demanda latente e urgente, que não podíamos mais esperar", comenta Antonia Teixeira.
“Com o Movimento Desconecta queremos escrever uma história de esperança para os nossos jovens e criar uma ação coletiva. Acreditamos que em cada escola, em cada cidade do Brasil, haverá mães, pais e cuidadores, preocupados como nós e dispostos a agir em nome do amor por seus filhos. Estamos convocando essas famílias a formar uma rede e liderar a implementação do Movimento Desconecta nas suas respectivas comunidades escolares, inspirando pais de cada classe a aderirem ao acordo”, afirma Camila Bruzzi.
Os números não mentem, pesquisas recentes apontam os malefícios do uso precoce e excessivo de celulares e redes sociais por crianças e adolescentes: alteração de comportamento, cyberbullying, acesso a conteúdos inapropriados, distração da vida acadêmica e limitação da socialização. “É na infância e na adolescência que se desenvolvem as habilidades de socialização, essenciais para a vida adulta. É tentador e mais fácil permanecer no celular e interagir pelas redes a se expor e vivenciar o mundo real", comenta Aline Amatuzzi.
A ideia do grupo de propor um acordo coletivo veio do entendimento de que na prática, por mais que os pais estejam conscientes dos riscos, eles acabam se vendo em um beco sem saída quando todos os colegas de seus filhos começam a ter esse acesso, causando o isolamento dos poucos que ficam de fora. "Muitos pais dizem “sim” aos celulares cedo, porque tantas outras famílias já disseram “sim”. Mas, e se disséssemos juntos “ainda não”?, pondera Fernanda Machado.
“O segredo é formar líderes do Movimento, ter uma base de apoiadores que por sua vez espalhem a ideia do acordo para todas as famílias. O senso de equipe e a motivação são a alma do nosso movimento", diz Mariana Uchoa. Para facilitar a expansão do acordo em cada comunidade escolar, o grupo está disponibilizando um manual com um passo a passo recomendado e uma série de outros materiais no site do projeto. "Queremos facilitar ao máximo o trabalho dos líderes que quiserem levar o movimento para sua escola. Na prática, o movimento somos todos e nós, do comitê, estamos apenas organizando e facilitando essa transformação", completa.
"Vale reforçar que o Movimento Desconecta não é sobre banir celulares das escolas. Propomos algo bem maior que isso, além dos muros escolares. É sobre as crianças não possuírem um dispositivo móvel próprio e dessa forma ter um celular em casa, nos encontros com os amigos ou especialmente nas escolas não seriam uma preocupação", reforça Fernanda Cytrynowicz.
“Não somos um movimento radical e nem contra tecnologia e ao propor que crianças e adolescentes tenham seu uso restrito, convidamos também os pais a refletirem sobre os excessos dos seus próprios hábitos. Uma verdadeira mudança requer um esforço de todos nós”, finaliza Fernanda.