Segundo relatório, divulgado nesta terça-feira (28), pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência ligada à ONU, há 80% de chance de o mundo registrar pelo menos um novo recorde anual de calor até 2029. O aquecimento global, que já colocou a humanidade em uma década recorde de calor, eleva o risco de secas extremas, inundações, incêndios florestais e eventos climáticos devastadores.
Pela primeira vez, cientistas também consideram, ainda que com baixa probabilidade (1%), a possibilidade de o planeta atingir 2°C acima dos níveis pré-industriais antes de 2030 — algo antes considerado impossível em prazo tão curto. O ano de 2024 já ultrapassou pela primeira vez o limiar de 1,5°C em média anual.
A meta de limitar o aquecimento a 1,5°C, firmada no Acordo de Paris, está cada vez mais distante. O relatório aponta 70% de chance de que o aquecimento médio entre 2025 e 2029 ultrapasse esse limite. Em comparação, o risco era de 40% em 2020. A média atual do período 2015-2034 já se aproxima de 1,44°C.
“Acabamos de viver os dez anos mais quentes da história registrada, e os dados não indicam desaceleração”, disse Ko Barrett, secretário-geral adjunto da OMM.
Segundo o climatologista Peter Thorne, da Universidade de Maynooth, a ultrapassagem da marca dos 1,5°C de forma duradoura é provável já no fim desta década, diante do contínuo aumento das emissões globais de CO₂. As projeções usaram 220 modelos climáticos de 15 institutos internacionais.
Cada fração de grau a mais aumenta o impacto de eventos extremos. Em 2025, por exemplo, é provável que se registre um dos três anos mais quentes da história. “Já atingimos um nível perigoso de aquecimento global”, alerta a cientista Friederike Otto, do Imperial College London.
As consequências variam por região. O Ártico deve continuar aquecendo a uma velocidade 3,5 vezes maior que a média global, acelerando o derretimento de geleiras. A Amazônia tende a sofrer com mais secas, enquanto o sul da Ásia, o Sahel africano e o norte da Europa devem ter aumento de chuvas.
A OMM reforça que ainda é possível limitar os danos se houver redução drástica e urgente no uso de combustíveis fósseis.