Antes de chegar ao circuito Barra-Ondina, a passarela Nelson Maleiro, no Campo Grande, Centro de Salvador, era a principal e grande prova do artista no encontro com o público e os meios de comunicação no carnaval da capital baiana. O trajeto, com cerca de 500 metros, era (e ainda é) cercado por órgãos de comunicação de todo o país, principalmente emissoras de rádio e TV, preferidas dos artistas para se destacarem na maior festa popular do mundo. Não raro, artistas só subiam nos trios elétricos, no começo do percurso, depois de algumas idas aos banheiros dos caminhões cada vez mais modernos e confortáveis. Era visível a emoção do artista quando a cancela se abria e dava espaço para a entrada na passarela que, além de jornalistas, reunia nos camarotes o governador da Bahia, o prefeito de Salvador, autoridades e convidados.
Além de reforçar a campanha para ganhar os prêmios de "Música do Carnaval", as estrelas da festa aproveitavam para cumprimentar os mandantes da capital e do estado, quase sempre agradecendo os patrocínios conseguidos. No icônico ano de 2000, o Carnaval comemorava os 50 anos da invenção que mudou toda a história da festa: o trio elétrico.
Naquele ano, era grande a expectativa para a chegada do novo trio do Camaleão, bloco que era puxado pela banda Chiclete com Banana. O Chicletão, como os fãs ardorosos chamavam a banda, estava estourado com a música “Cabelo Raspadinho". A composição, de Eduardo de Jesus e Tenyson Del Rey, exaltava o cabelo no estilo da época do jogador Ronaldo Fenômeno, incentivando o povo a botar a mão na cabeça, deixar o corpo rodar e fumar o cachimbo da paz. Como um recado indireto para a pipoca do Chiclete, conhecida pelo, digamos assim, jeito mais violento de pular, o vocalista Bell Marques reforçava o refrão "quem é da paz, tem sangue bom".
Na segunda-feira de Carnaval, o começo da tarde já fervia no Campo Grande e os foliões já esperavam pelo Camaleão, a quarta atração do dia, prevista para se apresentar às 13h. Como o horário nunca seguia a programação oficial, passava das 14h quando o bloco despontou na entrada da passarela, na esquina do Campo Grande com o Canela. De longe, a voz de Bell ficava ainda mais potente com a ajuda do avançado sistema de som do novo trio do Chiclete: o Tiranossauro Rex, também chamado de “O Predador da Tristeza".
O trio tinha como novidade principal uma passarela que servia de um pequeno palco para deixar Bell mais perto dos fãs. E foi esse o equipamento responsável por transmitir literalmente a eletricidade do artista quando se via frente a frente com o público e as câmeras de TV. Quando Bell chegou ao praticável (assim eram chamadas as estruturas de TV montadas para a transmissão do carnaval), ele parou para a entrevista e também para apresentar o novo trio, o tal dinossauro com sua plataforma móvel.
Para testar e inaugurar a novidade ele falou: "Vou até aí te abraçar, meu amigo Casemiro!". Dito e feito! Ele veio, me abraçou, e junto com o abraço veio também o choque que nos eletrizou. Não foi causado por nenhuma fonte de alta tensão. Na verdade, era o tremor da emoção do artista naquele momento em que ele estava no centro das atenções. Ali, eu vi como o arista é realmente um ser especial. Depois da entrevista, Bell seguiu e foi pra avenida ganhar os 4 quilômetros da festa no centro de Salvador… Seja chicleteiro, ou não, é impossível ficar indiferente à passagem de Bell. Ao abraço, então…