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Um câncer pra chamar de seu

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Da redação

Em tempos de desemprego, de redes sociais, de carência em última instância e desespero, todo mundo sonha com um patrocinador pra chamar de seu.

Um câncer pra chamar de seu
Arquivo Pessoal

Hoje em dia, quando alguém posta qualquer coisa nas redes sociais sonha com a viralização para poder capitalizar o que foi posto. Estamos na era da mercantilização em massa. Ninguém posta nada 'desintencionadamente'. Tem até quem discurse assim... "nem imaginei que fosse viralizar...blá blá blá"... e acredita quem quiser.

Em tempos de desemprego, de redes sociais, de carência em última instância e desespero, todo mundo sonha com um patrocinador, ou mais de um (preferencialmente), pra chamar de seu.

Nunca vi tanta gente colocando o câncer na roda, e dando dicas de como comer, beber, trepar, se vestir, andar, malhar, se divertir, passear, viajar melhor. Tem especialista, atolado de clichês, para absolutamente tudo.

E os professores de idioma? Fale francês, italiano, inglês e espanhol melhor, mais rápido e sem sotaque, prometem todos. Tudo online e grátis até o segundo clique.

Os anônimos que descobrem estar com câncer sonham com o estrelato e já vislumbram palestrar por todo o país. "Como lidar com a doença e estar sempre de alto astral", oi? Ou "Superando o câncer", "Lidando com a doença de cara lavada", "Assumindo a doença sem medo" e outras barbaridades mais.

E o tempo de recolhimento, dor e luto em função da moléstia? Quem, por acaso, vivenciar essas fases vai, depois, escrever um livro, lançar um blog, criar um site e estrelar um programa de televisão sobre superação. Sempre de olho nas cifras, nos bancadores financeiros.

As pessoas descobriram o poder e as imensas possibilidades da tecnologia. A pauta do dia é "autocapitalizar-se" e, claro, lucrar muito com tudo isso. Não há mais postagem desinteressada, pura, ingênua e do lar.

A ideia é conseguir os holofotes de alguma forma. E haja dancinha, jantar, namoro, viagem, aniversário, encontros, piadas. Tudo devidamente postado, filtrado e compartilhado.

Com os 'realites', então, é chegada a hora de se expor, ser humilhado, depreciado, desrespeitado, vender a alma por qualquer cem mil réis e correr atrás de uma suposta felicidade monetária. Os tais milhões.

Definitivamente, o mundo 'tecnoenlouqueceu'.


 

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