As brincadeiras perigosas da internet estão cada vez mais prejudicando crianças e adolescentes, provocando até mortes. No último domingo (13), Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, morreu no Distrito Federal. A polícia suspeita que ela tenha participado de um desafio viral na rede social.
A garota estava deitada em cima de uma almofada encharcada de desodorante e foi encontrada desacordada pelo avô no sofá da sala, junto com um frasco do produto vazio e o celular. Segundo a família, ela inalou desodorante e teve uma parada cardiorrespiratória ainda em casa. O avô chamou o SAMU, que a levou ainda com vida para o Hospital Regional de Ceilândia. A menina ficou internada na UTI. No domingo (13), teve morte cerebral.

O médico intensivista Rodrigo Rozante já atendeu algumas situações semelhantes em adolescentes. Ele alerta que o desodorante tem muitas substâncias químicas, que podem chegar muito rápido ao pulmão e comprometer a respiração.
"Alguns desodorantes podem conter gases como o butano, isobutano, ou propano. Eles são altamente tóxicos e podem levar ao processo de asfixia. Alguns desodorantes ainda possuem ácido clorídrico na fórmula, que podem causar reações alérgicas importantes, podendo levar a arritmia cardíaca, evoluindo para um quadro de parada cardiorrespiratória. As consequências da parada cardiorrespiratória podem ser sequelas neurológicas irreversíveis deixando o jovem acamado em estado vegetativo e, no pior dos casos, o óbito", informou.

A psicóloga da infância e adolescência, Julianna Brito, aponta que os pais precisam estar atentos ao que os filhos consomem na internet e sempre conversar e orientar sobre os riscos de determinadas brincadeiras e desafios.
"É importante manter o vínculo, e a conexão dos pais com os filhos para que eles se sintam a vontade para compartilhar os conteúdos que estão consumindo não só na internet mas em qualquer ambiente da vida deles", disse.
A profissional ainda dá dicas de como estreitar esses laços.
"Mostre curiosidade sobre o universo do filho: os jogos que gostam, os interesses, lugares que gostam de frequentar e assuntos com os amigos. Isso pode ser feito na hora da volta da escola ou sentados à mesa. Os pais esquecem que foram jovens, querem apenas impor regras e não conseguem criar relação genuína com os filhos. Isso é importante para o desenvolvimento desses jovens. Outra dica é criar momentos com a família com jogos de tabuleiro, um lanche que o filho goste de comer, um lugar que o filho goste de ir, enfim", orientou.
O Instituto Dimicuida, que monitora brincadeiras perigosas na internet, registrou 56 casos de crianças ou adolescentes que morreram ou ficaram gravemente feridos no Brasil desde 2014 por causa desses desafios online. O dado é usado como referência pelo Ministério da Justiça para monitorar esse tipo de violência.