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É hoje! Lavagem de Itapuã comemora 119 anos de história

Data:
Driele Veiga

Este ano, a festa homenageia a baiana e ganhadeira Terêsa Conceição Santos e o diretor do Colégio Lomanto Júnior, Ricardo Monteiro.

É hoje! Lavagem de Itapuã comemora 119 anos de história
Secom PMS

A tradicional Lavagem de Itapuã, que costuma ser a última festa popular de Salvador, antecedendo o Carnaval foi antecipada e a comemoração dos seus 119 anos acontece nesta quinta-feira (1), véspera de Iemanjá.

A celebração já começou. Às 2h da madrugada, o Bando Anunciador, uma orquestra de sopro percorreu as ruas de Itapuã convidando os moradores e às 5h uma alvorada de fogos  aconteceu no bairro. A Lavagem Nativa das escadarias e do pavimento da entrada da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Itapuã acontece cedo, também, ma Praça Dorival Caymmi, juntamente com um samba de roda com integrantes do Bando Anunciador e as Ganhadeiras de Itapuã.

O evento ainda conta com corrida do feijão e desfile das Mulheres que Incentivam, grupo formado por mulheres que fazem a caminhada, saindo de Piatã em direção à Itapuã. Ao meio-dia ocorre a lavagem das escadas da paróquia, desta vez realizada pelas baianas. E a festa se estende por toda a tarde e início da noite com o desfile de diversas entidades culturais.

Além da parte sagrada o evento tem, também, seu lado profano quando acontece o desfile de blocos no finalzinho da manhã e se estende por toda a tarde. Este ano, mais de 35 blocos e entidades culturais irão desfilar, entre elas Mulheres que Incentivam, Baleia Rosa do Amor, Os Itapuanzeiros, o bloco afro Malê Debalê, Puxada Itapuãnzeira – que este ano fará uma homenagem aos 210 anos da Revolta de Itapuã – Bloco Jacutinga, As Santinhas e um minitrio com Tonho Matéria.

Este ano, a festa homenageia a baiana e ganhadeira Terêsa Conceição Santos, de 71 anos, e o diretor do Colégio Lomanto Júnior, Ricardo Monteiro, de 54 anos.

BALEIA ROSA

Ícone cultural da Lavagem, a Baleia Rosa do Amor foi revitalizada em 2003 para resgatar uma celebração que começou em 1987 com Waly Salomão e João Loureiro, com a participação de Gessy Gesse como primeira coordenadora. Os amigos criaram a Festa da Baleia, à época, em referência ao bairro ter sido um ponto de caça de baleia entre os séculos XVII e XIX. Este ano, a Baleia Rosa do Amor vai homenagear Gessy Gesse, sétima esposa do poeta Vinicius de Moraes, e coordenadora da festa, quando tudo começou.

HISTÓRIA

Segundo conta Nelson Cadena no Livro Festas Populares da Bahia Fé e Folia, a Lavagem de Itapuã teria começado com a devoção dos pescadores da praia de Itapuã a Nossa Senhora da Purificação, sem uma data definida, mas provavelmente em finais do século XIX. Até 1930, era um evento em homenagem a Nossa Senhora da Purificação, mas na década seguinte a referência tornou-se Nossa Senhora da Conceição de Itapuã e assim continua até os dias atuais.

A festa ocorria inicialmente no dia 2 de fevereiro, era também a festa da Mãe D’Água, com uma romaria feita pelos pescadores. Segundo o pesquisador, escritor e jornalista, a mais antiga referência encontrada à Festa de Itapuã foi no jornal A Coisa, edição de 30 de janeiro de 1898, que descrevia os divertimentos e custos mais em conta de passageiros das embarcações para o transporte do público até Itapuã, que à época ainda era um local de difícil acesso.

Ainda segundo Cadena, não se sabe por qual motivo, estabeleceu-se a data de 1906 como ponto de partida para a festa. Com isso, todos os anos é noticiado o que seria um tempo de duração da festa. Este ano, segundo este ponto de origem, a festa completa 119 anos.

O pesquisador destaca, ainda, como característica que a diferencia das demais, o fato de essa ser a única festa que conservou a tradição do Bando Anunciador, recomposto na década de 1980 e que desde então percorre de madrugada as ruas do bairro. O Bando Anunciador era muito presente nas festas tradicionais da Bahia, inclusive na Lavagem do Bonfim.

“O bando anunciador existia em todas as festas populares da Bahia, tanto nas festas religiosas como nas cívicas. O 2 de Julho tinha um bando anunciador. E ele foi desaparecendo e só ficou em Salvador, sendo recriado na Lavagem de Itapuã, e em Santo Amaro da Purificação, que recentemente reintroduziu esse rito, que sai de madrugada, acordando as pessoas da localidade, dizendo que a festa irá começar mais tarde”, contou Cadena.

Além da preservação do Bando Anunciador, o pesquisador destaca mais dois pontos fortes da festa: “Primeiro, a questão das Ganhadeiras, que foi algo que ganhou espaço na última década, apesar de elas existirem muito antes. Eram as mulheres que ganhavam o seu sustento no Século XIX vendendo peixe, eram trabalhadoras que vendiam peixe. Tanto que existem muitas cantigas antigas de ganhadeiras. E outra coisa que eu reparo muito na festa é que os participantes cultuam as tradições de família. Se você for na Festa de Itapuã, você verá um monte de crianças vestidas de baianinhas, que são as filhas e netas das baianas que lavam a igreja, e isso é importante, porque são as crianças que garantem o futuro e a continuidade da celebração”, concluiu.

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