A imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros tem gerado forte tensão entre governo e setor produtivo. A medida, anunciada pelo ex-presidente Donald Trump em 9 de julho, pegou o Brasil de surpresa e atingiu em cheio áreas como madeira, café, pescados e sucos.
Negociadores nacionais ainda tentam reduzir os impactos, mas admitem que a alíquota anterior, de 10%, dificilmente será restabelecida.
Apesar de o discurso oficial ser econômico, a disputa tem forte viés político. A tensão entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contamina o ambiente, e o republicano já avisou que qualquer reação mais dura do Brasil pode gerar retaliações ainda maiores.
Para Paulo Roberto Pupo, da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada (Abimci), o setor vive um “início de colapso”. Ele participou de uma reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e relatou que empresas já enfrentam instabilidade, pois importadores norte-americanos estão evitando negociar com o Brasil. “Se escalonar, perdemos o mercado todo”, alertou.
O economista José Luiz Niemeyer, do Ibmec-RJ, lembra que os efeitos vão além das exportações: podem afetar empregos, investimentos e até empresas americanas atuantes no Brasil. Ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral classificou as medidas como “exageradas”, destacando que os EUA nunca aplicaram sanções tão duras nem contra países como Irã ou Rússia.
No agronegócio, o impacto maior se concentra em produtos como café, suco de laranja e carne bovina. Segundo Leonardo Alencar, da XP, as tarifas prejudicam nichos específicos.
Nos primeiros seis meses de 2025, os principais produtos exportados para os EUA foram petróleo, aço, café, aviões e carne bovina. A soja, principal item do agro brasileiro, não está entre os mais afetados.
O café, porém, preocupa. Marcos Matos, do Cecafé, afirma que o mercado está travado e que os Estados Unidos e o Brasil são interdependentes nesse setor. Para ele, a tarifa pode inviabilizar a comercialização, tornando o produto mais caro nos EUA e insustentável para exportadores brasileiros.
Situação ainda mais crítica é vivida pelos produtores de pescados. Eduardo Lobo, da Abipesca, afirma que todos os pedidos dos EUA foram suspensos, e a cadeia produtiva está parada. O setor, majoritariamente artesanal e localizado em regiões de baixo IDH, exporta 70% de sua produção para os norte-americanos.
“Não temos segunda opção”, diz Lobo, que aponta risco iminente de colapso.
A expectativa era encerrar o ano com US$ 600 milhões em exportações, sendo US$ 400 milhões só para os EUA. Agora, a estimativa é de perda de US$ 200 milhões. A Abipesca vai enviar carta ao presidente Lula pedindo R$ 900 milhões em crédito emergencial para salvar o setor.
“O socorro precisava ter vindo ontem”, alerta Lobo. Segundo ele, o setor não tem fôlego para esperar 90 dias por uma solução diplomática: “Se a tarifa for para 60%, 70% ou 80%, não faz mais diferença. Já não somos competitivos. O setor vai quebrar”.