O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), está processando criminalmente o soldado da Polícia Militar e influenciador digital Diego Santana Correa de Oliveira por difamação e injúria. Nesta terça-feira (19), a reportagem do Portal do Casé teve acesso com exclusividade à petição inicial, assinada pelos advogados do petista.
De acordo com o documento, o policial "realizou ataque violento, sem fundo de veracidade, através de palavras ofensivas e de baixo calão, com a clara a intenção de atingir a honra do representante [Jerônimo]". A peça sustenta que, durante um podcast, Jerônimo "teve sua honra frontalmente atingida, com o seguintes dizeres: 'o governador da Bahia é conhecido por cheirar cocaína e tomar whisky, e aí?'".
Os advogados de Jerônimo alegam que houve o "crime continuado". "No presente caso, o Representado organizou, e construiu uma fala para ser diferida em público, com uma plateia imensa dentro de redes sociais e internet, com informações inverídicas, no intuito de difamar a honra e imagem do representante, e na sequência realizou o planejado, sendo tais ações do querelante tipificadas no artigo 71 do Código penal".
No último dia 7 de novembro, o Ministério Público da Bahia, por meio do promotor Elmir Duclerc Júnior, pediu instauração de inquérito policial, para apurar os fatos, "a fim de que possam ser realizadas as pesquisas e perícias necessárias no material audiovisual apresentado". Durante a investigação, será realizado o interrogatório de Diego Correa e a identificação e oitiva dos responsáveis pelo podcast.

O MP, porém, não viu, no vídeo anexado pelos advogados de Jerônimo, o momento da suposta ofensa. "Não foi possível localizar especificamente o trecho em que a ofensa foi irrogada, embora haja uma coincidência no que se refere ao cenário, a “marca d’água” da página, que aparece sobreposta nos vídeos, bem como às pessoas que estariam presentes, junto com o representado, na bancada de uma espécie de podcast de temas policiais".
CORREA SE DEFENDE
Por meio de vídeo, divulgado nas redes sociais na última segunda-feira (19), o policial militar se defendeu da acusação movida por Jerônimo. Ele, inclusive, inseriu o trecho do podcast que seria o motivo do processo.
“O brasileiro fala assim: 'eu quero a mudança, eu quero a mudança', mas ninguém coloca o braço na seringa para a mudança. O senhor me perdoe. Tinha um governador anterior, que eu não devo mais nada a ele, que não é mais meu comandante, nem meu chefe do Executivo ... governador do estado da Bahia conhecido por cheirar cocaína e beber uísque. E aí? Ninguém fala porr* nenhuma disso? A gente está combatendo todos os dias. Por isso eu digo ao pobre que resolve entrar para o tráfico: 'acorda, otário. Você é ousado, porque os verdadeiros chefes estão dentro do plenário, no Senado”.
"Quando meu advogado teve acesso ao processo, eles não deram nem a prova [...] Caso eu venha a cumprir essa pena, que fique clara a injustiça que está sendo feita", pontuou o PM influenciador.
"O processo é de crime contra a honra. A pena é de um ano, de detenção. Ainda pode haver aumento da pena se a pessoa que cometeu ter notoriedade, que é meu caso. A pena aumenta em até três vezes. Analisem: dizem que afirmei num podcast que o governador Jerônimo Rodrigues, atual chefe do Executivo, a qual o regulamento da polícia diz que qualquer crítica indevida contra superior ou governador são crimes militares. Não sou burro de cometer um crime e dar minha cabeça. Pegaram um corte e disseram que eu aleguei que o governador usava droga", argumentou, em outro trecho.
"Esse processo, assim como outros que respondo, é quando a gente vai num podcast, se abre e conversa. São gerados cortes, trechos pequenos. Quem é dono de podcast faz esses cortes, geralmente para dar engajamento, like, curtida e ganhar seguidores. Às vezes, esses cortes começam a viralizar e as pessoas montam o vídeo com outro e sai do contexto da mensagem. Eu respondi e respondo a processos por vídeos fora de contexto", alegou Diego.
Ainda no vídeo de defesa, Correa inseriu uma fala do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Adolfo Menezes (PSD). Durante sessão, em maio deste ano, o chefe do Legislativo comentou sobre a fala de Correa no podcast.
"Deputado Diego, vossa excelência defendeu aqui um policial [...] Esse indivíduo, vi um vídeo dizendo que o governador cheirava cocaína. A sorte dele é que é o governador Jerônimo. Se fosse Putin, ele já tinha caído de um prédio. O cara falar uma coisa dessa e ter deputado para defender, vou te falar [...] Parece que ele foi preso. Ele deveria ser expulso e preso. Em outro país seria 20 anos [...] Isso não é democracia. Não podemos aceitar uma coisa dessa [...] Não pode ter um indivíduo desse na corporação. Repito: a sorte é que é Jerônimo. Se fosse Putin, ele já tinha ficado tonto em um apartamento, já tinha tomado um suco que fez mal...", declarou Adolfo.
"Muito me deixa surpreso, para não ser sarcástico e irônico, que, em um governo que fala tanto de amor, de respeito e democracia, o presidente de uma Assembleia Legislativa ter esse tipo de fala, se expressar dessa forma dentro de uma casa que representa o Poder Legislativo" , analisou Diego Correa no vídeo postado nas redes sociais.