O governo de Israel declarou, nesta quarta-feira (2), o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, como "persona non grata". A decisão foi tomada após acusações de que o mandatário da ONU não condenou de forma "inequívoca" o ataque balístico lançado pelo Irã contra o território israelense na terça-feira.
"Qualquer pessoa que seja incapaz de condenar inequivocamente o odioso ataque do Irã a Israel não merece pôr os pés em solo israelense. Este secretário-geral é contra Israel e apoia terroristas, violadores e assassinos", afirmou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, em comunicado oficial.
Tensão crescente entre Israel e a ONU
A medida marca mais um capítulo na crescente tensão entre Israel e as Nações Unidas, especialmente no contexto da guerra na região. O governo israelense tem se desentendido repetidamente com autoridades da ONU, acusando Guterres e outros representantes de manterem uma postura parcial e crítica em relação ao país. O atrito se intensificou após o mais recente ataque iraniano.
Na terça-feira, após o lançamento de mísseis pelo Irã, Guterres publicou uma nota nas redes sociais pedindo uma "desescalada regional", sem mencionar diretamente o Irã. "Condeno a ampliação do conflito no Oriente Médio com escalada após escalada. Isto deve parar. Precisamos absolutamente de um cessar-fogo", escreveu o secretário-geral. A ausência de uma condenação explícita ao ataque iraniano provocou indignação em Israel.
O que significa ser "persona non grata"
A declaração de "persona non grata" é uma ferramenta diplomática amplamente reconhecida no direito internacional. Quando um representante estrangeiro recebe essa classificação, ele deixa de ser aceito pelo governo do Estado que emitiu a declaração, embora isso não implique necessariamente em sua expulsão do país. A prática confere ao governo emissor a prerrogativa de solicitar ao país de origem do diplomata que o retire de seu território.
De acordo com o Itamaraty, a declaração de "persona non grata" geralmente é utilizada para expressar descontentamento diplomático, punir infrações cometidas por representantes estrangeiros ou mesmo expulsar diplomatas acusados de atividades como espionagem.
Crises anteriores
Esta não é a primeira vez que Israel recorre ao uso dessa medida. Em fevereiro deste ano, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi classificado como "persona non grata" por Israel, após declarações feitas em Adis Abeba, na Etiópia, em que comparou o desastre humanitário na Faixa de Gaza ao Holocausto. O comentário gerou uma forte reação do governo israelense, com o ministro Israel Katz afirmando que o presidente brasileiro só seria aceito novamente no país após retratação.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também reagiu na ocasião, classificando as palavras de Lula como "vergonhosas e graves".
O episódio envolvendo Guterres reforça o clima de tensão diplomática que tem marcado as relações de Israel com líderes e instituições internacionais durante o conflito. A medida contra o secretário-geral da ONU simboliza a insatisfação do governo israelense com o que considera um tratamento injusto por parte das Nações Unidas em relação à situação no Oriente Médio.
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