A Meta alterou nesta terça-feira (7), sua política contra discurso de ódio nas plataformas Facebook, Instagram e Threads, permitindo associações entre doenças mentais e orientação sexual ou gênero. Com a mudança os usuários agora podem classificar pessoas LGBTQIA+ como 'doentes mentais'.
"Nós permitimos alegações de doença mental ou anormalidade quando baseadas em gênero ou orientação sexual, dado o discurso político e religioso sobre transgênero e homossexualidade", afirmou a empresa em seu novo texto.
A atualização, válida nos EUA e Reino Unido, coincide com o fim do programa de verificação de fatos anunciado por Mark Zuckerberg. No Brasil, a política antiga ainda vigora.
As novas diretrizes permitem "linguagem insultuosa" em discussões políticas ou religiosas sobre direitos transgêneros, imigração e homossexualidade. Além disso, foram retiradas restrições à "autoadmissão de intolerância" com base em características protegidas, como homofobia, islamofobia e racismo.
Em conversa com o Portal do Casé o Coordenador Municipal da Política LGBT e ativista do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira, afirmou que essas mudanças podem perpetuar a estigmatização, discriminação e violência contra comunidades vulneráveis.
"Acho preocupante essa decisão. No Brasil hoje a LGBTfobia é crime. A Meta flexibilizar suas diretrizes permitindo postagens que associem essa população a doentes mentais é promover discurso de ódio e discriminação principalmente em espaço de trabalho", afirmou.
Marcelo ainda fez questão de relembrar que o Brasil foi pioneiro em desconsiderar a homosexualidade como transtorno mental em 1985. A decisão foi tomada antes da decisão internacional, em 1990, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Com a decisão o termo homosexualismo foi eliminado pois o sufixo ‘ismo’, é caracterizado por enfermidades.
"Isso foi de grande importância porque orientou os médicos do Brasil sobre como tratar essa população na consulta médica, orientou com que os currículos de formação de médicos no País fossem revistos e humanizados. Então houve toda uma revolução silenciosa favorável para a população LGBT e acabou com o sofrimento de famílias que internavam os filhos para tratamentos desumanos", relembrou.
Para o presidente do GGB é necessário uma pressão sobre a Meta para que a alteração seja cancelada.
"As instituições e população precisa pressionar para que seja revista a decisão. É um retrocesso", concluiu.