A prefeita reeleita de Cansanção, Vilma Rosa de Oliveira Gomes (MDB), foi condenada mais uma vez à prisão. Em decisão proferida na tarde desta quarta-feira (6), o juiz federal Fábio Moreira Ramiro entendeu que a gestora cometeu fraude licitatória e integrou organização criminosa entre 2011 e 2015 para desviar dinheiro da Secretaria da Saúde do município, que fica na região Nordeste da Bahia. Na época, a política era secretária e esposa do então prefeito, Ranulfo Gomes.
A chefe do Executivo Municipal foi sentenciada a nove anos, quatro meses e 25 dias de reclusão, além de 285 dias-multa. A pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. Na prática, porém, Vilma não será presa imediatamente. Isso porque a Justiça Federal concedeu à ré o direito de recorrer em liberdade, "haja vista o fato de que não se encontra presente qualquer das hipóteses que autorizam a prisão preventiva".
A condenação faz parte de uma mesma investigação, desmembrada em 19 autos, decorrente da "Operação Making Of". Segundo a PF, o prefeito "estruturou uma organização criminosa, visando controlar as contratações realizadas sob sua gestão, objetivando frustrar o caráter competitivo das licitações e direcionar contratos da Prefeitura às empresas pertencentes a ele ou a membros de sua família".
Essa prática, segundo a Polícia Federal e Controladoria Geral da União, rendeu mais de R$ 26 milhões, em contratos, para as empresas da família Gomes. Os investigadores levantaram pelo menos sete razões sociais, todas ligadas a familiares de Vilma e Ranulfo.
Na condição de secretária de Saúde, Vilma Gomes controlava o Fundo Municipal da Saúde. O juiz entendeu que ela "colaborou nas manipulações das licitações, ao ter demandado contratações e pagamentos para empresas vinculadas a familiares". Uma das firmas beneficiadas, segundo apurado, foi a G.S Informática. A CGU apontou que a empresa está em nome de um sobrinho da então secretária e só ela recebeu R$ 1,7 milhão da Prefeitura.
TRAJETO DO DINHEIRO
O processo ainda mostra o caminho feito pelo dinheiro. Laudos da CGU apontam transferências de recursos entre Ranulfo e Vilma. "Da mesma forma, as contas alimentadas por Vilma pertencem ao seu próprio marido (66 lançamentos), às empresas do Grupo Gomes, à secretária do seu marido e ao irmão do seu marido".
Dentre as empresas integrantes do Grupo Gomes, destaca a Controladoria, Vilma Gomes repassou: R$ 90 mil, por meio de quatro lançamentos, para a R.S Transportes e Logística; R$ 57.814,00, em 17 lançamentos, para a Madeireira Gomes LTDA; e R$ 10 mil, de uma vez, para empresa do filho do casal.
O mesmo relatório destaca que a atual prefeita recebeu, a título de crédito, R$ 424.327,48, oriundos da Prefeitura Municipal de Cansanção, por meio de 90 transações. Da mesma forma, recebeu R$ 127.182,73 provenientes do Fundo Municipal de Saúde. Também atesta que a ré recebeu duas transações no valor total de R$ 4.500,00 e uma no valor de R$ 1.500,00, da conta do seu sobrinho.
O juiz Fábio Ramiro concordou com as conclusões destes laudos.
DEFESA
O Portal do Casé procurou a assessoria de imprensa da Prefeitura de Cansanção, que não tinha se manifestado até a publicação desta reportagem.
Vilma, quando interrogada na fase de investigações, preferiu ficar em silêncio. Já em juízo declarou que não participava da contratação das empresas por meio dos procedimentos licitatórios. Também afirmou que recebia as demandas para realização da licitação, autorizava o procedimento, além da homologação e do recebimento do objeto licitado.
"Não, porque eu nunca participei. Existia lá a equipe de licitação, eram feitas as licitações, quem ganhasse, claro que se viesse as demandas para mim, eu ia homologar e fazer os pedidos, que os secretários, os coordenadores da saúde pediam. Agora, para mim demandar, indicar alguma empresa, nunca fiz", argumentou perante à Justiça Federal.
OUTRA SENTENÇA
Em agosto deste ano, a prefeita, o marido e a filha deles, Pollyana Oliveira Gomes, foram condenados a até 9 anos de prisão por lavagem de dinheiro provenientes do que o Ministério Público Federal (MPF) chamou de "organização criminosa contra a Administração Pública". É o processo que deu origem à essa nova condenação.
REELEIÇÃO
Mesmo com os problemas judiciais, Vilma Gomes foi reeleita com folga, nas eleições deste ano. Ela, que usou o nome “Vilma Gomes A Mamãe” nas urnas, obteve17.229 votos, um total de 73,51% dos votos válidos. Ela venceu Drª Thaynara (Avante). Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que a eleição em Cansanção teve 24.816 votos totais. Foram 348 votos brancos e 1.029 votos nulos.
“Mostramos a força de uma campanha construída com amor e dedicação, refletindo o quanto nosso povo confia no nosso trabalho. E nós, que já dizemos tanto, vamos fazer muito mais. Essa vitória é nossa, do nosso time 15 e do meu querido povo!”, escreveu ela no Instagram, ao comemorar a vitória.
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