Secretário da Educação de Salvador, Thiago Martins Dantas, foi pressionado por uma organização criminosa para realizar pagamentos de supostos serviços realizados pela empresa Larclean. A firma é investigada no âmbito da operação "Overclean", deflagrada na terça-feira (10) e que prendeu 15 pessoas - entre empresários, políticos e servidores. A Polícia Federal teve acesso a conversas entre o titular da SMED e Marcos Moura, conhecido como "Rei do Lixo" e que tem contratos com a Prefeitura de Salvador.
A Larclean Saúde Ambiental, segundo a PF, é administrada por Alex Parente e tem acordos com várias Prefeituras pelo país. O Ministério Público Federal cita a firma como de fachada, para movimentação de dinheiro ilícito para pagamentos de propina a agentes públicos.
A conversa interceptada pelos investigadores menciona a participação de Marcos Moura junto ao secretário Thiago Dantas, para o pagamento de parcelas dos supostos serviços realizados pela Larclean, em decorrência de contrato firmado com a SMED. "Os diálogos analisados denotam 'a liderança de Marcos Moura como aquele que viabiliza o acesso ao secretário, assim como Marcos também reforça a cobrança pelo pagamento", sustenta o relatório enviado ao juiz federal Fábio Ramiro.
Um ponto chamou a atenção dos policiais. Nessa mesma conversa, Moura, inclusive, sugere que Thiago deixe de honrar outros compromissos da Secretaria, para que o pagamento da Larclean seja feito.
CORRUPÇÃO DENTRO DA SMED
No âmbito da mesma operação, a PF mostrou que o servidor da Secretaria da Educação, Flávio Henrique de Lacerda Pimenta, e o líder da Larclean, Alex Parente, chegaram a trocar informações sobre uma licitação para a contratação de empresa especializada no desalojamento e controle de infestação de pombos e morcegos pela Secretaria Municipal de Educação.
Pimenta, que foi um dos presos na ação, chegou a encaminhar arquivo contendo parecer da Procuradoria-Geral do Município de Salvador, manifestando-se de forma favorável ao prosseguimento do processo licitatório. "No entanto, orienta Alex Parente sobre a necessidade de que se retire a 'qualificação e a possibilidade de registro de preço', de modo a favorecer os interesses do citado líder da Organização Criminosa no certame que, conforme apurado, se trata do PE n. 001/2024", sustenta o MPF.
Flávio Henrique de Lacerda chamou a atenção da PF em duas oportunidades: na primeira, ele pediu a Alex a compra de diversos eletrodomésticos. Na segunda, o empresário e o servidor da Prefeitura de Salvador conversam sobre o pagamento de propina, de forma mais escancarada.
"O tom do diálogo sugere uma negociação clara e objetiva sobre a propina, embora os detalhes exatos da transação, como o valor e o local da entrega, não sejam especificados na conversa. A conversa reforça a ideia de que o pagamento está sendo feito para garantir o favorecimento de Alex no processo licitatório, evidenciando a prática de corrupção e superfaturamento de serviços", aponta relatório da Polícia Federal.
O Portal do Casé solicitou posicionamento da Secretaria Municipal da Educação sobre o assunto, mas não tinha obtido retorno até a publicação desta matéria. Na terça-feira (10), poucas horas depois da operação, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) mandou demitir Flávio.