Um relatório da Unicef, divulgado na última quinta-feira (12), mostra que a obesidade já superou a desnutrição entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos no mundo. O documento aponta como principal causa a substituição de alimentos saudáveis por produtos ultraprocessados.
De acordo com os dados coletados em mais de 190 países, a subnutrição caiu de 13% para 9,2% entre 2000 e 2025. Já os índices de obesidade cresceram de 3% para 9,4% no mesmo período, o que corresponde a 188 milhões de jovens.
No Brasil, a proporção de crianças e adolescentes obesos aumentou de 5% para 15%, enquanto a taxa de desnutrição caiu de 4% para 3%. Apesar do aumento nos casos de obesidade, o país é citado como exemplo positivo no relatório, principalmente pelas políticas públicas de alimentação escolar e pela criação do Guia Alimentar para a População Brasileira.
Políticas públicas
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que restringe progressivamente a compra de ultraprocessados, é apontado como um dos diferenciais. Nas escolas, o incentivo ao consumo de “comida de verdade” contribui para a mudança de hábitos desde cedo.
Um exemplo é o Instituto Anchieta Grajaú, na zona sul de São Paulo, que atende 600 crianças e adolescentes com refeições balanceadas. Além das frutas e verduras oferecidas diariamente, a instituição mantém um pomar e uma horta cultivada pelos próprios alunos.
O endocrinologista pediátrico do Hospital Infantil Sabará, Matheus Alvares, destacou a importância de investir em hábitos saudáveis na infância. “Crianças com excesso de peso têm risco maior de se tornarem adolescentes e, depois, adultos obesos”, afirmou.
A coordenadora do instituto, Marilene Gomes, contou que apenas quatro adolescentes estavam em situação de obesidade e que o acompanhamento junto às famílias foi essencial. “Em dois casos, a obesidade estava ligada à ansiedade; em outros dois, à compulsão alimentar. Com diálogo e apoio, conseguimos tratar essas questões em conjunto”, explicou.
Já a especialista em saúde e nutrição do Unicef no Brasil, Stephanie Amaral, destacou o impacto do preço dos ultraprocessados na escolha alimentar das famílias. “São produtos baratos, fáceis de encontrar e que acabam dominando a mesa de quem vive em situação de vulnerabilidade”, afirmou.
O relatório recomenda ações de proteção social, regulamentação da indústria alimentícia e restrição da publicidade de produtos ultraprocessados voltados ao público infantil.