Com informações da repórter Driele Veiga, do Portal do Casé.
Maria Bernadete Pacífico Moreira, de 72 anos, líder quilombola assassinada em agosto de 2023, recebeu 25 tiros dentro da própria casa. A informação foi dada pelo Ministério Público da Bahia nesta quinta-feira (16), durante coletiva conjunta com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) para detalhar o fim das investigações sobre a execução da idosa.
Foram indiciados Arielson da Conceição Santos, Josevan Dionísio dos Santos, Marílio dos Santos, Sérgio Ferreira de Jesus e Ydney Carlos dos Santos de Jesus, além de outro homem. As investigações apontaram que Arielson e Josevan foram os executores. O segundo está foragido.
O Departamento de Homicídios e o MP definiram que a principal motivação foi retaliação de um grupo responsável pelo tráfico de drogas em Simões Filho. Os cinco primeiros foram indiciados por homicídio e o sexto - Carlos Guiodai - por posse ilegal de arma de fogo, em outro inquérito policial.
Três netos da vítima presenciaram a ação da dupla e ouviram os tiros dados contra a avó.
"Entraram a pé na casa. Eles tocam na porta. Mãe Bernardete estava na companhia de três netos, dois menores. Um deles abre a porta e os dois agentes ingressam, cada um com uma arma em punho, pistola. Josevam se desloca em direção aos menores, determinando que entrem no quarto. O segundo executor, Arielson, se dirige a um mais um neto de Bernardete. Imediatamente, num ato de barbárie, Josevam aponta a arma para Mãe Bernardete e determina que ela sente no sofá. Ela se recusa", detalhou o promotor de Justiça Luiz Neto.
"Ela recebe o primeiro disparo na região toráxica por resistir, relembrando Joana Angélica em 1822. Não se esperava outra coisa dela. A partir disso, ela recebeu mais 24 disparos de arma de fogo", concluiu.
MANDANTE E AJUDANTE
A polícia concluiu que Marílio dos Santos e Ydney Carlos dos Santos de Jesus mandaram matar a idosa, muito incitados por Sérgio Ferreira de Jesus.
"[Sérgio] não era traficante. Ele morava no quilombo e fazia extração de madeira. Ele tinha contatos dos traficantes. A partir daí, por ele ter esse negócio dele abalado, ele insufla os traficantes contra Mãe Bernardete. Não detectamos que os traficantes estivessem fazendo extração de madeira. Sérgio se apropria dessa ação de Mãe Bernardete e chama o tráfico", disse a delegada-geral, Heloísa Brito.
Antes do crime, Sérgio teria encaminhado um áudio para o cunhado de um dos executores, inflando os traficantes contra a vítima. O material foi interceptado pela Polícia Civil.
"Bernardete falou que, no dia da festa, vai fechar tudo de polícia. Ela está mandando um carro cheio de polícia, para tirar foto. Foi ela quem mandou. Disse que vai colocar todo mundo na cadeia. Fiquem ligados nesses carros pretos, que são policiais", sustentou.
Após o crime consumado, Sérgio envia novo áudio, dessa vez para Arielson, um dos executores, mandando ele destruir os celulares de Bernardete que foram roubados após o crime. “Enterra esse celular que tá com rastreador, viu? Da Polícia Federal. Esconde bem escondido, arranca o chip e desliga o celular. Enterra essa peste, viu? Que tá com rastreador”. Estão presos Arielson, Sérgio, Ydney e Guiodai. A polícia segue a procura dos outros dois envolvidos.
Além deles, outras duas pessoas foram presas e liberadas durante a investigação. Uma delas teria recepcionado os celulares de Mãe Bernadete e a outra era a esposa de Sérgio. Apesar de não terem envolvimento direto com o crime, eles foram fundamentais para delinear a participação dos outros autores no crime.