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Novo livro de João Carlos Salles reflete sobre desacordos profundos e divergências culturais

Data:
Marcele Neves

Exímio conhecedor da obra do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, é dela que o autor parte para uma inovadora abordagem do tema complexo e desafiador

Novo livro de João Carlos Salles reflete sobre desacordos profundos e divergências culturais
Divulgação

No dia 30 de julho, o Museu de Arte Contemporânea da Bahia será palco do lancamento do 17º livro de João Carlos Salles,  filósofo, professor da UFBA e seu reitor por dois mandatos (2014-2022). No livro, que já está em pré-venda  pelo site: www.areteeditora.com.br, Salles inspirou-se num trecho de uma carta de Wittgenstein ao economista italiano Piero Sraffa para escolher o provocativo título de sua mais recente publicação. 

Veja-se: "Quanto mais velho fico, tanto mais eu percebo como é terrivelmente difícil para as pessoas se entenderem, e penso que alguém se engana acerca disso pelo fato de todos se parecerem tanto. Se algumas pessoas se parecessem com elefantes e outras com gatos ou peixes, alguém não esperaria que eles se entendessem, e as coisas pareceriam muito mais o que realmente são."

Embora amigos por duas décadas, observa Salles, o relacionamento entre o filósofo e o economista com o tempo degradou-se por completo. E o profundo desentendimento para o qual os dois caminham, examinado em detalhes em Gatos, peixes e elefantes, transforma-se, para o autor, num poderoso estímulo à análise do tema dos desacordos e acordos profundos que permeiam as interações humanas. “Tudo faria crer na semelhança desses dois grandes intelectuais do século passado, e mesmo numa forte influência mútua, entremostrada na obra de cada um. A aparente semelhança, porém, pode iludir e ocultar diferenças insuperáveis”, pondera Salles.

Salles contrapõe-se à sugestão do filósofo Robert Fogelin que, em 1985, atribuiu a Wittgenstein a tese de que haveria “desacordos profundos”, cuja natureza impediria sua resolução por um debate racional. Estariam no campo de tais desacordos, para Fogelin, temas como o aborto e as ações afirmativas. Salles recusa que tal tese esteja formulada em algum lugar da obra do filósofo austríaco e propõe um novo olhar sobre o problema e mesmo sobre a obra inteira de Wittgenstein, ao mostrar que a preocupação de Wittgenstein era antes a de investigar a "gramática dos acordos profundos". 

“Cada cultura tem um conjunto de valores e nenhuma cultura está, por si só, certa ou errada. Se desejarmos superar esses desacordos profundos é preciso antes de mais nada entender a constituição de espaços gramaticais, ou seja, o conjunto de regras e normas que, entremeadas na linguagem, norteiam as relações humanas”, propõe João Carlos Salles.

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