A Polícia Militar mandou prender dois soldados, que são influenciadores digitais, por 30 dias. Clézio Santana Lins, lotado na 59ª Companhia Independente (CIPM/Vila de Abrantes), e Flora Thais Machado do Nascimento, do Batalhão de Polícia Rodoviária, foram condenados em processos diferentes por exposição nas redes sociais. A decisão já foi assinada pelo comandante-geral, coronel Paulo Coutinho, e não tem uma data definida para ser cumprida.
Lins, que recebeu um Processo Administrativo Disciplinar, tem pouco mais de 42 mil seguidores somente no Instagram. Ele foi investigado por dar detalhes, em um podcast, de uma abordagem policial em que um dos agentes da guarnição teria furtado a calcinha de uma mulher. A situação chegou ao conhecimento do Comando-Geral da PM em outubro de 2023. No mesmo mês, Lins foi afastado das atividades operacionais porque teria "maculado a imagem da corporação".
Durante a conversa, no podcast "Só Vem", Clézio relatou que o integrante da guarnição insistiu em abordar o casal que estava fazendo sexo e levou a calcinha da mulher. “Qual foi 'homi', deixa o casal lá”, afirmou o soldado Lins no dia da ocorrência, relembrado no podcast. Seu colega, porém, disse: “É, ela vai, mas vai voltar sem calcinha”. “Porque?”, retrucou Lins. “Eu trouxe a calcinha (risos)”, respondeu o outro PM.
De acordo com a decisão dos oficiais que assinaram o relatório da investigação, Lins expôs a corporação a nível nacional. Segundo eles, o conteúdo dito pelo soldado no podcast "afetou o decoro, valores éticos, morais e o pundonor policial", isso porque a corporação está associada ao êxito no policiamento. Ainda conforme o relatório, o agente público violou pontos da portaria que regula uso das redes sociais por policiais militares da Bahia.
O relatório que condenou a soldado Flora foi oriundo de um Processo Disciplinar Sumário (PDS). A Polícia Militar abriu o feito após, segundo a própria corporação, a agente postar propagandas de diversos produtos, inclusive fardada, entre abril e junho de 2023. Entre as "publis" estariam lojas de biquíni, shows e até jogos de azar. Segundo a Polícia Militar, essas publicações "ilustram a associação da imagem institucional da PMBA com atividades comerciais e de entretenimento".
Os oficiais que assinaram o Processo Administrativo entenderam que a utilização "da imagem institucional em atividades nas redes sociais vinculam a Polícia Militar a iniciativas comerciais ou a conteúdos que não estão alinhados com os elevados padrões éticos e de comportamento adequados".
O QUE DIZEM AS DEFESAS
A reportagem do Portal do Casé entrou em contado com os advogados que defenderam Lins e Flora nos processos. Robson Amorim, que representou o soldado, disse que não vai se manifestar sobre a decisão.
Maicon Expedito, advogado de Flora, classificou a prisão como "desrazoável". "O PDS pontuou que ela estava se valendo da instituição pata se promover. As fotos colhidas pela instituição mostram que foram tiradas em um lapso temporal fora da instituição sem a farda. Outro ponto é que, antes de Flora ingressar nas fileiras da PM, já tinha alcance e trabalhava com suas redes sociais. As alegações da instituição não mereciam prosperar", relatou.
Ainda segundo o advogado, a soldado "nunca precisou se valer da instituição para suas publicidades". "A defesa entende que foi desrazoável [a punição de 30 dias]. É um prazo máximo. A defesa trouxe provas de que o processo não merecia prosperar. A instituição falou que ela fazia publicidade fardada e isso não é verdade", completou Maicon.