Nem o calor das 6h30 do dia 22 de março, ainda tímido em relação aos 35º C de sensação durante o dia, foi suficiente para fazer Lilia Lima desistir de ver, pela primeira vez, o local que finalizou uma de suas angústias. Em novembro de 2024, a ossada do filho dela, Davi Lima da Silva, foi encontrada em uma serra de difícil acesso no município de Itiúba, Nordeste da Bahia. Ele estava desaparecido há mais de três anos.
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O Portal do Casé acompanhou Lilia até o local. Os mais de 60 minutos de caminhada ficavam ainda mais difíceis a cada minuto, por conta da subida íngreme e da caatinga, ainda verde por conta das chuvas de dois meses atrás. Quem nos guia é Rafael Matos. Com seu fiel escudeiro, o facão usado para cortar galhos, ele revela que, em 2021, ajudou nas buscas por Davi. Aquele local que estávamos, aliás, já tinha sido alvo de caçadores, drones e helicópteros.
"[A ossada] foi achada por aqui, assim. Meu coração está apertado. É uma dor que estou sentindo. Ele não chegaria aqui sozinho. A gente andou mais de um quilômetro e tivemos empecilho para chegar. É um local que não tem condições de uma criança chegar. É triste de imaginar que ele foi abandonado aqui. Não tenho uma explicação. Faltam palavras. Pedi forças a Deus para ver esse lugar", disse ela.
A fala da mãe de Davi vai de encontro à investigação da Polícia Civil. É que a Delegacia Territorial de Itiúba finalizou o inquérito no último dia 14 de março, afirmando que o garoto se perdeu na mata e, por isso, morreu. A cidade não acredita nisso.
"É complexo, porque aqui é dificultosa a entrada. Há muita pedra, espinho e mata fechada. A gente veio pela frente, que é um pasto, e já foi difícil. Pela mata é improvável. Acho difícil Davi ter vindo pela mata. Para quem não conhece, não tenho fé de ter chegado aqui. Em 2021 [quando Davi sumiu], estava mais seco. Então, era mais difícil por conta do calor. Tinha espinho pelo chão", contou o guia Rafael.
Já no final da nossa subida, uma surpresa: Terezinha Lima, mãe de Lilia e avó de Davi, nos acompanhava de longe, sem que soubéssemos. "Eu estava com vontade de ver o lugar. Ele não tinha condições de vir aqui, pelo roçado. Se ele tivesse morrido aqui, acho que teria urubu. Além disso, caçadores teriam visto. Ele não tinha condições de morrer aqui", confidenciou.
"Ele estava descalço. A gente está de bota, e com espinhos nos pés. Aqui, nem um segundo a gente fica descalço. É caatinga. Aqui, tem cipó. Até para um animal entrar aqui é difícil", completou Lilia, apontando para a vegetação local.
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