WhatsApp

'Caloi', 'garfo' e mais: trocas de mensagens mostram suposta propina envolvendo gabinete de deputado, empresário e prefeitos

Data:
Jean Mendes

Essa investigação tem relação com a Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal e que já afastou até prefeitos da Bahia

'Caloi', 'garfo' e mais: trocas de mensagens mostram suposta propina envolvendo gabinete de deputado, empresário e prefeitos
Marcelo, Félix e Beto

Trocas de mensagens entre prefeitos baianos, assessor parlamentar e empresário mostram como funcionava o suposto esquema que desviava emendas Pix. Os arquivos foram publicados pelo Portal Uol, nesta sexta-feira, e envolvem o empresário e ex-presidente da Câmara de Várzea do Poço, Evandro Baldino do Nascimento, além de Marcelo Chaves Gomes, assessor do deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT).

Essa investigação tem relação com a Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal e que já afastou até prefeitos da Bahia. De acordo com o site, as trocas de mensagens desse núcleo - que tinham palavras específicas para tratar de dinheiro, a exemplo de "Caloi"; "Garfo"; "Soldas"; e "Praguinhas" - escancaram possível esquema de corrupção no gabinete do parlamentar pedetista.

Antes de o Supremo Tribunal Federal intervir, emendas milionárias eram destinadas, sem controle, para Prefeituras de todo o país. É aqui que, segundo a Polícia Federal, havia os desvios.

REPASSES

De acordo com o UOL, as emendas Pix suspeitas envolvendo o gabinete do deputado federal Félix Mendonça têm relação com os municípios de Ibipitanga, Boquira e Paratinga. Em uma das mensagens, por exemplo, Evandro e Marcelo falam sobre a contratação da empresa Ativa Projetos e Serviços. Em 2020, deputado, empresário e o eleito prefeito de Ibipitanga, Beto (PT), tiveram uma reunião para, segundo a PF, tratar desse contrato.

Segundo as apurações, Mendonça encaminhou R$ 9,1 milhões em emendas para a cidade, sendo R$ 4,1 milhões em Pix. 

Em outra interceptação, em 2023, Marcelo Félix pede a Evandro o contato do prefeito de Boquira, Alan França, para, supostamente cobrar uma propina. "Vou falar com ele que meu aniversário foi 11/08 e a Caloi não chegou". A PF descobriu que a cidade tinha recebido R$ 492 mil para assistência hospitalar.

Para a PF, "a presença de Félix Mendonça em Salvador nas datas de algumas negociações reforça a suspeita de que ele tinha conhecimento ou participação nas movimentações". Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal, porém, consideraram insuficientes as provas para mandados de busca contra o pedetista.

CONTRATAÇÃO

A reportagem do Uol ainda traz outro detalhe. A namorada do empresário Evandro, Patrícia Porfírio, foi empregada no gabinete de Félix Mendonça. Nas conversas interceptadas, Evandro e Marcelo falam sobre um "combinado" com o deputado. Para a PF, ela era "fantasma".

"O salário entrou. Peça a Patrícia olhar a conta", manda Marcelo ao empresário - que chega a reclamar. "Era para ser o 25. Não importa. O combinado não é caro", sustenta Evandro. "São 40 meses mais 4 décimos e 4 férias", alega o assessor de Félix, fazendo as contas e chegando a R$ 388 mil, tentando apaziguar o amigo: "Não tem aplicação no mundo que dê isso". "Eu ganho muito mais com esse dinheiro que investir", responde.

O QUE DIZEM OS ACUSADOS

Félix Mendonça disse ao Uol que contratou Patrícia Porfício para ajudar na articulação no interior da Bahia. Afirmou ainda que ela não batia ponto. O advogado dele, José Eduardo Alckmin, argumentou que o deputado tem interesse em apoiar prefeitos e projetos, e que não participou de negociação com os citados.

A defesa de Marcelo disse que o caso tramita em segredo de Justiça, e que não poderia comentar. O advogado de Evandro não foi localizado pelo UOL.

 

Tenha notícias
no seu e-mail