O servidor do Ministério da Justiça Clebson Ferreira de Paula Vieira afirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que foi orientado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) a produzir dados que sugerissem ligação do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com organizações criminosas.
O depoimento foi prestado nesta segunda-feira (14) no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. À época, Clebson atuava como analista de inteligência na Coordenação-Geral de Inteligência do ministério.
Segundo ele, a ordem envolvia a produção de uma "análise de correlação estatística" entre a concentração de votos em Lula no segundo turno e territórios dominados por facções criminosas, especialmente no Rio de Janeiro. “Chegou um pedido para verificar se havia correlação entre os votos e áreas dominadas pelo Comando Vermelho”, relatou.
O servidor afirmou que estranhou a solicitação, e comentou o caso com a então esposa. “Sempre que chegava algo com viés político, eu comentava com ela. Disse que tinha vindo uma demanda daquelas”, explicou.
Ele também revelou ter sido orientado a analisar outros dados eleitorais do segundo turno, envolvendo estatísticas, segurança e registros de violência próximos às urnas.
DEPOIMENTOS NO STF
O depoimento de Clebson integra a nova fase de oitivas no STF, que começou nesta segunda e segue até quinta-feira (18). Estão sendo ouvidas testemunhas convocadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas de réus ligados aos núcleos 2, 3 e 4 da investigação.
Entre os nomes convocados estão os senadores Hamilton Mourão (Republicanos-RS), Rogério Marinho (PL-RN), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o tenente-coronel Mauro Cid.
As oitivas ocorrem por videoconferência no anexo do STF, sem acesso da imprensa. As gravações feitas pela Corte serão anexadas ao processo.
RÉUS E ACUSAÇÕES
No núcleo 2, respondem como réus:
Fernando de Sousa Oliveira (delegado da PF);
Filipe Martins (ex-assessor da Presidência);
Marcelo Câmara (coronel da reserva e ex-assessor);
Marília Alencar (delegada e ex-diretora da PF);
Mario Fernandes (general da reserva);
Silvinei Vasques (ex-diretor da PRF).
Os núcleos 3 e 4 envolvem militares de alta patente, agentes da Polícia Federal e envolvidos em ações logísticas. Todos respondem por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.