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Pequeno fardo

Data:
Eugenio Afonso

Virou moda 'desromantizar' o ato materno.

Pequeno fardo
Freepik

Não sou mulher. Não tenho útero nem ovário. Portanto, jamais serei mãe. Mas, na contemporaneidade, há uma tendência atual das mães 'modernetes' se queixarem da maternidade. Que não é simples, que é doloroso, que não gosta de educar, que dói e cai o peito, que não tem paz para dormir, blá blá blá.

Virou moda 'desromantizar' o ato materno. Quando ouço um discurso desses, principalmente os que alegam questões estéticas, e que parecem tão sérios, profundos e doloridos – só que não - só penso nos filhos.

Crescer ouvindo sua mãe expor o horror que é a maternidade não deve ser nada simples para a formação de genes salutares. Como ela sofre, como ela era mais feliz antes. Como criança dá trabalho e atrapalha. Não deve ser nada fácil e agradável perceber que não se é assim tão bem-vindo.

Sou filho de uma geração em que as mães se aceitavam como mães. Não questionavam muito, nem lamentavam a maternidade, e seguiam educando. Sentíamos amados. Todo mundo tinha uma mãe pra chamar de sua e saber que ela era orgulhosa da filharada.

Ou se não era, fazia bem o dever de casa. Não me lembro de lamúrias como as atuais. Mas agora não. Todas as 'modernetes' de plantão querem vir a público se queixar do 'fardo' da maternidade.

Muitas, claro, para sair do anonimato e ganhar holofote. Outras para deixar claro sua coleção de insatisfações e complexidades desnecessárias. A princípio, ninguém é obrigado a parir.

Ser mãe é uma preferência e deveria ser um ato de amor, natural, saboroso e de felicidade, por mais que cause incômodos. É simples? Acredito que não. É fácil? Não deve ser. É uma decisão natural e sublime? Deveria ser.

Só estamos habitando esse planeta graças à existência das mães. E mesmo com um número grande de genitoras dedicadas, felizes com a maternidade, tentando ser amorosas e criando filhos bem amados, o caos está instalado.

Agora, imagina a geração de filhos dessas mães 'pseudoproblemáticas' daqui há um tempinho. Gente que cresce mal amada, sabendo que sua mãe não tolera o que a maternidade lhe exige. Imagina ter que saber que sua mãe acha tudo isso um tormento, que você é um fardo.

Que sofreu muito para lhe educar, que não foi fácil, que teve dor, tremor e mau humor. Imagino que à medida que a criança vai crescendo, a mãe vai justificando suas ideias e tentando o perdão.

Mas talvez já tenha causado um buraco qualquer no âmago filial. Tem cura, tem recuperação, tudo isso é bobagem? Vai saber. Mas não gostaria de perceber que minha mãe encarou a maternidade como uma sofrência. Que estou no mundo porque não teve jeito. E que ela educou porque não teve saída.

Talvez a maternidade feliz e saudável, onde a criança é desejada e cortejada, seja o prenúncio de um mundo mais amoroso, menos caótico e bélico. Será?

Talvez eu esteja romantizando demais. Será? Afinal, jamais serei mãe. Mas, como filho, acho sensacional ouvir mulheres encarando o ato com naturalidade, enaltecendo a maternidade, felizes por procriar, satisfeitas por poder desenvolver uma relação de afeto e amor com um novo ser.

Por mais que não seja simples, por mais que seja sofrido, dolorido em determinados momentos, ser mãe é, ou deveria ser, uma escolha. E toda escolha implica uma renúncia.

Saber-se desejado aquece a alma. Dá uma sensação de amor, bem-estar. É como quando você chega em algum lugar, a pessoa abre a porta, sorri e diz: seja muito bem-vindo. 
 

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