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Que Tal? Camisinha, nem pensar

Data:
Eugenio Afonso

Gravidez indesejada é um dos principais motes de qualquer trama novelística

Que Tal? Camisinha, nem pensar
Arquivo/Prefeitura de Feira de Santana

Gravidez indesejada é um dos principais motes de qualquer trama novelística. Não há folhetim sem mulher parindo e complicando a vida de vários personagens.

E elas engravidam a qualquer momento, sobretudo as mais jovens, 'jovencitas' mesmo. E o mais grave, com, sei lá, menos de um mês que conheceu o mancebo.

É assim: conheceu, se apaixonou perdidamente, ou não, se separou por inúmeras intrigas palacianas, mas...passado um tempinho se descobre grávida. Este roteiro é infalível. Dez entre dez novelas têm.

E ninguém discute a gravidez como consequência nefasta, ou não, para a vida da mulher. Pior: ninguém menciona adotar um planejamento familiar, utilizar um preservativo durante a cópula. As palavras camisinha, pílula, tabela, são proibidas no roteiro.

Não há a menor preocupação com um mínimo de educação sexual. As meninas não são orientadas a se protegerem, inclusive de uma coleção bem chatinha que são as doenças sexualmente transmissíveis.

Nem pensar. E como vai ficar a trama? E aquele emaranhado de mal explicados sobre quem é o pai, a verdadeira mãe? E a confusão na relação do cara que engravidou a garota, mas já migrou pra outra? Ou da garota que está de bucho cheio e já mudou de paixão?

Compreender a situação? Não tem como, até porque além da gravidez tem o ciúme gerado pela não confiança – outro mote infalível. Em qualquer folhetim "que se preze", é muito mais fácil acreditar na intriga, na notícia fraudulenta do que no companheiro ou companheira com quem o personagem divide a cena e a cama.

O vilão dá as cartas e as ordens até o capítulo final. Além de semear a discórdia, ele determina o que pode e não pode ser dito e em quem é possível confiar na trama. E nunca é em quem está falando a verdade.

Será que não existem possibilidades de outros roteiros? Por que só a cizânia afetiva desperta interesse? E como ficam as inúmeras adolescentes que existem nesse mundão de meu Deus diante destas histórias rocambolescas e parideiras?

Por que há tanta mãe menininha por aí? Por que há tanto feminicídio? Quem disse que o ciúme tempera uma relação? Por que confiar é pros fracos?

O que quer uma novela?

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