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Que tal? E viva a cizânia

Data:
Eugenio Afonso

O que interessa é desarmonizar...

Que tal? E viva a cizânia
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O que interessa é desarmonizar. Criar barraco, fazer fuzarca, puxar cabelo, xingar, meter a mão na cara, desrespeitar, falar impropérios, tensionar o ambiente. É tudo que se quer, ou melhor, é tudo que se projeta para ser.

Soube que uma participante de um reality show muito famoso sugeriu que os confinados se tratassem bem, evitassem discórdias, tentassem criar um clima de harmonia e bem-estar enquanto estivessem convivendo em grupo.

Assim que a notícia correu mundo, os internautas começaram a se mobilizar. Queriam que ela fosse expulsa da casa. Exigiram até. Como assim? Uma jogadora propondo paz e harmonia? Não estou aqui do outro lado da tela para ver 'monotonia', para ver desconhecidos se abraçando. Quero barraco, quero guerra.

E assim tem sido. Desde que os odiadores assumiram gostar de odiar e que os vermes humanos foram liberados dos esgotos, é impressionante como tem sido o comportamento de uma boa parcela da população brasileira.

Grita-se em alto e bom som: tenho orgulho de ser conservador, de não querer lidar com os diferentes, de não aceitar quem não comunga da minha cartilha. E haja bater a mão no peito e cantar o hino.

Mas já houve um tempo em que ninguém se autoproclamava conservador. Era, no mínimo, vergonhoso. Havia uma necessidade de transformar o tempo, evoluir, garantir os direitos humanos básicos e se sentir colaborador de um mundo mais justo.

Mas agora o ódio está plantado, enraizado. Para mim, particularmente, é quase esquizofrênica esta postura. É doentio. Não somos iguais, nunca seremos. Somos diferentes por essência. E a todos é dado o direito à diversidade.

Que um programa poliânico seria realmente entediante, tudo bem. Mas ele poderia ser um jogo de debates políticos, culturais, comportamentais, sociais, psicológicos. Há tanto o que se falar, tanto pra aprender.

Só que a turba não quer, não aceita. Abaixo a paz, diriam alguns. Quero ver o circo pegar fogo, diriam todos. O curioso é que este comportamento é estimulado pelo programa. A ideia é essa. Criar cisões, provocar confrontos. E tudo de forma gratuita.

Depois ninguém entende porque há tantas guerras, tanto feminicídio, tanta homofobia, xenofobia, transfobia, tanto bullying, tanto racismo. Muito menos porque o trânsito é agressivo, o policial é grosseiro, o casal se estapeia e a vida segue.

E todo mundo é religioso. E todo mundo é contra a guerra. E ninguém é racista. E todos são tão família e solidários. Tão pessoas do bem (expressão mais que odienda).

Nada é por acaso e gratuito. Tudo tem histórico. É só fazer as contas, observar os séculos, os comportamentos, as posturas. É matemático, exato. Se plantou mandioca, não vai colher margarida. Se plantou cizânia, não vai colher harmonia.

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