Desde que foi apresentada à imersão, a exposição nunca mais foi a mesma. Vire e mexe, cai de amores por ela. Não há mais mostra sem inúmeros apelos de movimento, sombras, desenhos por paredes e corpos, sensação de ser parte intrínseca da obra, luzes a rodopiar e sensação de pertencimento.
É como se apenas simplesmente imaginar e fruir uma fotografia, uma escultura ou um óleo sobre tela não fizesse mais sentido. É preciso se envolver de forma mais radical com a obra, seja lá o que isto signifique.
Uma simples imagem (tela ou foto) pode gerar em um apreciador um sem-número de sentimentos. Desde os mais profundos aos mais rasos. E muitas vezes a proposta é basicamente esta: contemplar a obra, deixar a imaginação fluir e se contaminar pelo que ela pretende comunicar.
Mas em eras atropeladamente imagéticas somente contemplar e fruir uma obra 'estática' não faz mais nenhum sentido. Tem que 'entrar' nela e, muitas vezes, se perder completamente da intenção do artista.
Deslumbrado com aquele assombro de possibilidades imersivas, o visitante é capaz de apenas se conectar com a ideia da 'genial novidade' e se desvincular totalmente da proposta original.
Diluída, a obra passa a ser um parque de diversões, mesmo que seja Munch, Van Gogh, Kahlo, Portinari ou Hopper. Talvez a ideia do artista seja exatamente o oposto. Fazer com que o público aprenda a entender tristeza, dor, angústia e medo. Com consentimento ou não, marcas de vida em qualquer ser humano.
De que adianta apreciar uma exposição do artista plástico estadunidense Edward Hopper, conhecido por suas pinturas de representação realística da solidão, e sair de lá saltitante?
Cada artista tem um propósito quando compõe uma obra e nem sempre a ideia é a da felicidade absoluta. Portanto, talvez seja mais eficaz contemplar uma tela e apenas sentir o que ela sugere. E a contemplação, ao lado da imaginação e fruição, inúmeras vezes, é suficiente para a apreensão da ideia.
Mas exposição e imersão estão enamoradas. Não sei ao certo que bodas andam fazendo, talvez a de porcelana. No entanto, é sabido que a convivência pode gerar uma série de desgastes e um dia, no porvir, se estabelecer uma separação.
Ou, quem sabe, uma relação mais aberta. Até porque apenas o invólucro não é suficiente para definir o que está atravancado no âmago.