Na vida, a gente costuma passar boa parte do tempo remoendo questões que só mais tarde serão perdoadas. É aquele negócio, a pessoa é organizada, mas os outros fazem troça, dizem que é preciso relaxar, que o legal é ser desprendido e que você pode ficar tensionado. Aí você vai e acredita.
Quer ser mais desligado para ser mais querido e relaxado e, supostamente, ter mais saúde. Será? Depois, beeeeeem depois, a gente percebe que a pessoa é para o que nasce.
Engraçado é que quem gosta de cagar regra, o faz dando a sensação de que aquela forma de viver é muito mais lógica, mais sensata, mais correta. Oi?
Quem disse que os mais bagunçados são mais felizes? Ué, eles nem sabem onde deixaram a felicidade, se debaixo do tapete ou atrás da porta.
Quando determinada questão realmente incomoda, é preciso mudar. Vá lá, é uma medida interna de inteligência. E isto não é difícil, a gente vai construindo a estrada com pés e braços, mas tem baço e fígado também.
Então, se tá doendo, vamos remediar. Mas se transformar porque o outro, que muito provavelmente é mais complicado do que você, determina como é a boa conduta, aí o negócio pega.
Por que é mais interessante passar minutos, quiçá horas, procurando a chave da casa, do que tê-la sempre à mão, em lugares pré-determinados? É até uma questão de aproveitamento do tempo.
Tem também a sempre tão aclamada vaidade, questão que incomoda muita gente. Por que andar descabelado, não depilado, vestindo qualquer coisa é melhor? O figurino diz muito de você. A gente é o que come, veste, ouve, lê, assiste.
Certa feita, conversando com uma amiga, que por sinal é sapata, peguei-a resmungando sobre raspar as axilas. Obviamente, ela não raspa e isto é um problema só dela. Mas o engraçado foi o argumento. Diz ela: por que vou raspar se os homens não raspam?
Errou feio, errou rude. Até porque alguns espécimes masculinos andam muito mais vaidosos do que determinadas mulheres e estão raspando tudo, pernas, axilas, peito, virilha, púbis...não sobra quase nenhuma pelugem.
A boa resposta seria: porque acho bonito, porque gosto, porque ninguém tem nada com isso. Bingo. Não há mais necessidade das mulheres quererem desafiar os homens nestes atributos. Eles estão cada vez mais feminilizados e elas, masculinizadas. Estamos vivendo um imbróglio identitário. Novos signos, nova era.
Corta os cabelos quem quiser, quem não, deixa a mata atlântica se embrenhar por aí. Veste trapo quem quiser. Faz fisiculturismo quem quiser. Namora com mau caráter quem quiser.
Cada qual no seu cada qual. Só não pode querer determinar o que é melhor pra cada um. Muito menos querer nos dizer como amar. Somos todos essencialmente neuróticos, já dizia o bom e velho Freud. Tá tudo explicado. Manda o ditador de regra pra América de Trump (não consegui imaginar lugar pior) e vai se divertir.
