WhatsApp

Que tal? Retórica vazia, por Eugênio Afonso

Data:
Da redação

Todo mundo gosta. Todo mundo apoia.

Que tal? Retórica vazia, por Eugênio Afonso
Arquivo Pessoal

Todo mundo gosta. Todo mundo apoia. Todo mundo chora quando ameaça fechar. Todo mundo fica indignado com a falta de apoio. Todo mundo posa de preocupado com a possibilidade de tudo ir às favas.

Mas ninguém frequenta.

A lógica é clara: para que um espaço cultural de rua funcione de forma decente e possa se manter estável, é preciso que tenha público. Para que tenha público, as pessoas precisam parar com a retórica vazia e se dispor a ir.

O tragicômico é que as sessões costumam ter duas, três, cinco pessoas. Isso mesmo. Nem uma dezena. A não ser que seja filme de premiação internacional, de preferência estadunidense.

Mas como é possível? Estavam todos tão indignados com a possibilidade de fechamento. Tanto lamento, tanto discurso bonito, tanta citação de filósofos e antropólogos. Pareciam estar extremamente afetados com o sumiço das salas.

No rosto, sempre um ar blasé de pseudointelectualidade. No comportamento, um descompromisso com o discurso arrotado nas redes sociais. Um contrassenso absoluto.

Com o desenvolvimento cada vez mais aguçado da comunicação virtual e todas as possibilidades de imagem que ela oferece, a concorrência realmente é desleal e quase desumana. Sair de casa pra quê?

Ainda mais na ultra desigual e violenta republiqueta das bananas. Mas então pra que tanto discurso, tanto incômodo, tanta pose, tanto falso bom mocismo, se fechar ou abrir é só mesmo uma questão de semântica verbal?

Muito melhor e mais importante do que custear campanhas contra fechamento é se mexer para que este movimento seja desnecessário.

Só há uma solução, frequentar e frequentar. Até porque todo mundo acha tão bacana e importante. Como os 'indignados' não têm dado o ar da graça, a probabilidade que a frequência volte a ficar animada é quase nula (tom pessimista aqui). Paira no ar a chance de um novo fim (tom derrotista).

A equação é fácil: como toda escolha implica em uma perda, ou tem gente acomodada na poltrona do cinema ou não tem mais sala de arte alternativa. Então, copiando mestre Allen, 'match point'.  

 

 


 

Tenha notícias
no seu e-mail