Todo mundo gosta. Todo mundo apoia. Todo mundo chora quando ameaça fechar. Todo mundo fica indignado com a falta de apoio. Todo mundo posa de preocupado com a possibilidade de tudo ir às favas.
Mas ninguém frequenta.
A lógica é clara: para que um espaço cultural de rua funcione de forma decente e possa se manter estável, é preciso que tenha público. Para que tenha público, as pessoas precisam parar com a retórica vazia e se dispor a ir.
O tragicômico é que as sessões costumam ter duas, três, cinco pessoas. Isso mesmo. Nem uma dezena. A não ser que seja filme de premiação internacional, de preferência estadunidense.
Mas como é possível? Estavam todos tão indignados com a possibilidade de fechamento. Tanto lamento, tanto discurso bonito, tanta citação de filósofos e antropólogos. Pareciam estar extremamente afetados com o sumiço das salas.
No rosto, sempre um ar blasé de pseudointelectualidade. No comportamento, um descompromisso com o discurso arrotado nas redes sociais. Um contrassenso absoluto.
Com o desenvolvimento cada vez mais aguçado da comunicação virtual e todas as possibilidades de imagem que ela oferece, a concorrência realmente é desleal e quase desumana. Sair de casa pra quê?
Ainda mais na ultra desigual e violenta republiqueta das bananas. Mas então pra que tanto discurso, tanto incômodo, tanta pose, tanto falso bom mocismo, se fechar ou abrir é só mesmo uma questão de semântica verbal?
Muito melhor e mais importante do que custear campanhas contra fechamento é se mexer para que este movimento seja desnecessário.
Só há uma solução, frequentar e frequentar. Até porque todo mundo acha tão bacana e importante. Como os 'indignados' não têm dado o ar da graça, a probabilidade que a frequência volte a ficar animada é quase nula (tom pessimista aqui). Paira no ar a chance de um novo fim (tom derrotista).
A equação é fácil: como toda escolha implica em uma perda, ou tem gente acomodada na poltrona do cinema ou não tem mais sala de arte alternativa. Então, copiando mestre Allen, 'match point'.