Ouvem-se vaias. Multidão insatisfeita com performance da artista, que só discursa e não canta, começa a gritar. A cantora está no palco e conversa empolada. Parece arrogante. De repente, alguém decide dialogar e grita: 'você é metida, fala menos e canta mais'.
Pra quê? Do alto de soberba arrogância, ela devolve; 'não sou metida, eu sou Nãoseiquenzinha da Silva. Vá procurar o que fazer'.
Vem de lá um 'gostamos de você e queremos ouvir sua música. Este discurso está um pé no saco. Pagamos pra dançar'. Ela rebate: 'vá se lascar, homem nenhum manda eu me calar. Eu sou poderosa. Sou fodona'.
Tensão no ar. Extremamente mal-humorada com o embate, ela segue no desabafo indelicado. 'Vá pra puta que pariu. Vá à merda. Ninguém manda em mim'.
Feministas aplaudem, gays reagem com gritos de maravilhosa, pseudointelectuais gozam, mulheres vão ao delírio. Todo mundo apostando em retórica feminista.
Mas, que se saiba, ela não estava em uma mesa de bar com seus amigos, nem em casa com a família, nem discutindo a relação com seu parceiro, ou parceira. Estava em cima de um tablado, considerado espaço sagrado por muitos.
Para que o artista se exiba em um palco, é preciso que o público compareça. Para que o público compareça, é preciso, de forma geral, que ele pague. Mas mesmo que seja de graça, público nenhum sai de casa para ouvir desaforo.
Então, talvez seja deselegante agredir e ofender quem colabora para a construção do seu sucesso. Artista também não é obrigado a ouvir xingamento, mas precisa aprender a lidar com o contraditório. Até porque ele erra e muito.
Desde quando agressão verbal é sinônimo de força e poder? Não é exatamente pela exclusão desse tipo de comportamento que tanto se luta? Para uma suposta agressão verbal, o troco ideal é outra?
Assistir a um show entremeado de palavrões desnecessários não deve ser muito agradável. A não ser que a carreira do artista seja pautada neste tipo de conduta.
Não parece o caso daquela artista, que estava tão desnorteada em cima do palco, tão carente, tão desejosa de laiques e admiração. Então, para não sair dos holofotes, decidiu tirar proveito do fato e escancarou os xingamentos por onde passava.
Tem momentos em que todos nós perdemos a estribeira. Isto é fato. Mas quando se está trabalhando, é necessário aprender a lidar com os engolimentos de sapo. Há um convívio lá fora e muitas vezes o responsável pelo desagravo pode ser você mesmo.
Salve a sutileza, a delicadeza, a educação, a privacidade, o talento, a capacidade de lidar com os infortúnios e tudo que possa ser mais saudável para seguir caminhando.
É fácil? Não. É possível? Sim.