Mesmo tendo sido apresentado à gravata, ao paletó, lenço, meia social e sapato de bico fino, eles nunca ficaram íntimos, nunca frequentaram o meu armário. Nunca houve indícios da presença de qualquer um deles mofando por lá.
Só micro meias para exercício físico e dois cintos para segurar a calça quando tende a despencar. Sou um assíduo não frequentador de casamentos, formaturas e quetais.
Sorte ou azar, tenho uma profissão que me permite andar confortavelmente. Calças largas, se for preciso, camisa de malha, se quiser, cabelo comprido, se desejar, sandália ou tênis para cobrir os pés. Pode bolsa a tiracolo, saia comprida, chapéu, boné e cigarro.
Sempre construí um guarda-roupa hedonista. A roupa deve servir ao desejo. Até porque não acredito em sapato de bico fino confortável. Terno vai depender muito do local e da temperatura, mas dispenso de qualquer forma.
Caso me batesse por aí com a gravata diria: muito desprazer. Meia não uso por falta de tesão mesmo. Não acho necessário, e cinto também. E sou até considerado, às vezes, uma pessoa elegante. Vejam só!
Mas elegância foi, é e sempre será postura. Não importa a vestimenta, muito menos a marca. Conheço pessoas de extrema elegância que não conhecem uma marca sequer. Nunca ouviram falar em Chanel, Dior ou Givenchy.
Mas habitam uma roupa como poucas. Na verdade, a capacidade de ser elegante depende muitas vezes de um mero bom dia. Outra coisa, a vida profissional deveria estar atrelada somente ao desempenho funcional. Mas não é bem assim que a roda gira.
Há muito fetiche por salto alto, terno bem cortado, calça social, saia justa, maquiagem, decote, uma boa gravata e um cinto decente. Nada contra. Há quem se divirta por aí com essas fantasias.
Esses personagens representam as personas do dia a dia de qualquer regime abundantemente capitalista. É como se vestissem o gourmet da rouparia. Já eu sou mais do camarão e ensopadinho com chuchu.
