Os helicópteros sobrevoavam o bairro de Aventura, em Miami, nos Estados Unidos. Vans pretas com vidros escuros passavam em alta velocidade pela 95, a Freeway mais movimentada da meca latina da Flórida. Na terra “imperialista” visada por inimigos, antigos e recentes, o cenário remetia a ataques terroristas ou, no mínimo, acidentes geralmente superdimensionados pelo jeito americano de ser. Já me deparei com algumas situações que exemplificam muito bem a exagerada disciplina norte americana em lidar com acidentes. Citarei duas.
Na primeira, estava em Chicago. Depois de ficar impressionado com a imensidão do lago MIchigam ,parecido com mar, saltei da barca de passeio e ao atravessar o cais encontrei uma rua cercada por aquelas famosas faixas amarelas de filmes americanos, quatro viaturas da polícia, uma ambulância do 190 e uma pequena multidão. Na mesma hora, pensei: “deve ter morrido alguém ou um bocado de gente”. O repórter já tramava uma exclusiva com direito a foto da minha Nikon pendurada no pescoço. Era época sem celular. Frustração total. Todo aquele circo foi causado por um atropelamento. A vítima, uma mulher, já estava sendo carregada em uma maca. Ia sentada, conversando numa boa com duas pessoas ao lado.
A segunda situação foi mesmo em Miami. Viagem de férias com mulher e filhos. Todos hospedados em um hotel em Miami Beach, área de praia, dias de verão. Com bolso e jeito brasileiros, o café era tomado em uma delicatessen em frente, uma boa padaria bem mais barata do que o café do hotel. De repente, um barulho forte, um estouro feito bomba. A correria foi geral com copos e sanduíches pelos ares e gente se batendo na fuga. Paranoia desfeita. Não era bomba, nem atentado. Na verdade, um motorista perdeu o controle do carro e bateu em um poste. Saiu do carro andando e sem ferimentos. Em minutos, tudo de novo. Rua interditada, faixas amarelas cercando tudo e policiais impedindo fotos e filmagens pelo celular.
Coincidentemente, eu ia na mesma direção dos helicópteros naquele dia em uma Miami ensolarada. Com o dólar mais em conta e produtos mais baratos e raros de se encontrar em terras tupiniquins, meu destino era o shopping Aventura, um dos mais famosos e melhores da cidade. Quando cheguei na entrada do Centro comercial, encontrei dezenas de pessoas reunidas em frente à entrada principal. Algumas choravam e se abraçavam. Naquele momento não tive dúvida de que algo muito grave tinha acontecido. Para aumentar a minha percepção, seis vans pretas estavam posicionadas, em fila, próximas à entrada. Conjecturei atentados, bombas, uma ação da KU Klux Klan... Diante daquele cenário, só tragédias me passavam pela cabeça.
“Ele está aqui”; Meu Deus, é muita emoção para mim”; “É o amor da minha vida”. Frases como estas, traduzidas no meu inglês mediano, me revelaram o que de fato acontecia. Eu perguntei e ouvi a resposta: Michael Jackson está aí dentro!!! O rei do pop tinha fechado o todo shopping para fazer compras sem ser incomodado. As fichas caíram. Os helicópteros eram para a segurança pessoal, da polícia e de emissoras de Tv. As vans para o transporte das compras e do artista que vendeu mais discos em o todo mundo. Eu já tinha visto Michael Jackson antes, quando ele esteve em Salvador, em 1996, para gravar o clipe “They Don`t Care About Us”, no Largo do Pelourinho. Vi de longe. Na Bahia, ninguém da imprensa conseguiu chegar perto. A saudosa repórter Glória Maria começou a negociar em Salvador a exclusiva que conseguiu fazer depois no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. Mesmo assim, não foi uma entrevista. Ela pediu uma declaração sobre o Brasil e ele disse que amava o nosso país.
O Aventura Mall foi aberto, e parte do andar térreo liberado para o público comum. Cordões de segurança foram colocados nos dois lados do corredor. No primeiro piso, aparece o motivo daquilo tudo. Michael Jackson vem descendo a escada rolante com a roupa que mais parecia uma fantasia e era característica dele: o terno brilhante e as famosas luvas brancas. A gritaria ecoou por todos os cantos. Ele vem sorrindo e acenando para os fãs. O baiano aqui, tiete do artista desde adolescente, vê a chance de pelo menos chegar perto de um ídolo. Me abaixei e driblei a segurança. Fui até Michael, bati levemente no ombro dele e soltei: “Hi, Michael, I´m from Brazil”. Ele: “Hi, Hi Brazil!”. Voltei rapidamente para não aumentar o vexame e ser expulso pelos seguranças. Depois, fui comparar preços em lojas convertendo em reais. Que diferença...