Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é conversar e entrevistar o povo nas ruas. Em muitas reportagens, o chamado "povo fala” ou “fala povo” é extremamente necessário para completar a matéria. Isso vale desde o aumento no preço do tomate até a mudança nos rumos econômicos do país. Em muitas situações, as respostas surpreendem. Ou pela falta de conhecimento e noção do entrevistado ou pela reação inesperada de quem se pensava não saber ou dominar o tema.
Eu costumava pegar as pessoas de supetão, um risco muito grande quando você está ao vivo. O mais indicado é, a depender da situação, combinar com quem você vai entrevistar o assunto e até a pergunta que será feita. Mas, repito, adoro o improviso, mesmo no risco. Por causa disso, já me dei mal algumas vezes e, se fosse hoje, nem estaria por aqui, teria sido cancelado por um raio fulminante do politicamente correto.
Nos anos 90, quando Antônio Carlos Magalhães era governador da Bahia, fui fazer uma entrada ao vivo no telejornal da noite, na emissora de propriedade da família Magalhães. A ideia era encerrar o telejornal comigo mostrando a magia, as orações e os rituais afro na festa em homenagem a São Roque, no alto de São Lázaro
No encerramento do segundo bloco, o amigo e colega da época, Émerson José, que apresentava o jornal, faz a chamada do próximo bloco, destacando que estaríamos ao vivo na festa. Me preparo para voltar. Como sempre fazia, combino com a equipe que vamos entrar de improviso, andar no meio do povo, conversar om as baianas, falar do ritual de matriz africana e interagir com os devotos. Eu só não contava que aquilo podia acabar não dando muito certo devido ao momento político que o estado passava, perto de eleições, e na habitual polarização baiana que gerava mil discussões e brigas entre carlistas e anti-carlistas.
Como falávamos na gíria televisiva daquele tempo, entrou água. E muita! Um entrevistado mudou o tema do link ao vivo e pulou da fé no santo que dizem curar doenças para desancar, o que, para ele, era o motivo de sua dor de cabeça que só poderia ser curada na urna e não no altar. O militante aproveitou o vacilo do repórter, puxou com força o microfone e teve tempo de mandar ao vivo uma série de impropérios contra o governador. Em segundos, o alvo da ira foi xingado de tudo quanto é tipo de palavrão.
Corte rápido para o estúdio e o “boa-noite” veio balbuciado por um apresentador assustado. Para evitar novas surpresas e contratempos como aquele, por um tempo, o jornal passou a ser previamente gravado.
Vergonha mesmo eu passei quando fazia um povo fala no centro de Salvador para repercutir as compras de natal. Eu e a equipe com o repórter cinematográfico Julio Cesar Almeida e o auxiliar Fábio Marconi abordávamos os consumidores em uma das esquinas da Avenida Sete de Setembro, onde um homem se esbarrou em mim e quase me derrubou com microfone e tudo. Dei um grito, e perguntei se ele não estava enxergando por onde andava e arrematei perguntando se estava cego. Ele me respondeu que sim, era cego. Poucas vezes, pedi tantas desculpas.
Outro fora que dei foi na estação da lapa em um QVP especial sobre a novidade do metro recém-inaugurado. Após mostrar os trens por dentro, fui entrevistar as pessoas na Estação da lapa, uma das mais movimentadas do sistema. Uma mulher começa a conversar comigo e aproveito para entrevistá-la. Ela com o filha do lado. Poso para fotos e depois aponto para a barriga e pergunto se já vem outro e recebo de volta a informação que aquilo é só um acúmulo regional de gordura. O jeito foi mudar o assunto.
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