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Até Você, Casé? Os tapas e beijos da MPB e um encontro com Caetano no Carnaval

Data:
Casemiro Neto

Gosto de quase tudo, mas algumas canções eu não suporto

Até Você, Casé? Os tapas e beijos da MPB e um encontro com Caetano no Carnaval
Arquivo pessoal

Podem começar a me jogar pedras, mas eu não consigo gostar de alguns clássicos da nossa MPB. A música popular brasileira é o estilo que mais escuto. Não fico mais de 24 horas sem a companhia dela no Spotify em casa, no carro ou também no som de CDs, e até LPs(se você não conhece, pesquise).

Na MPB, entre os artistas que mais gosto e, claro, sempre presentes nas minhas playlists estão Bethânia, Caetano, Gil e Gal, Os quatro são os meus preferidos de todas as horas. Para mim, eles são um vício bom, que alegra, acalma, diverte e surpreende.

Na minha discografia (Sim! Eu ainda tenho centenas de CDs e LPs) tem também muita coisa de Milton, Chico, Jobim, João Gilberto, Nana, Elis, Rita, Marina, Zizi e outros. Gosto de quase tudo, mas algumas canções eu não suporto.

Vamos lá! Já começo a me preparar para torpedos de indignação que virão.

Em ordem aleatória, seguem algumas “pérolas” do nosso cancioneiro popular que me dão engulhos quando ouço as primeiras estrofes e arranjos. Escolhi só algumas. Apenas para contextualizar esse texto.

Uma delas leva o nome de Shimbalaiê, ou coisa parecida. Não consigo acreditar como é possível um ser humano sobreviver poucos mais de 3 minutos ouvindo isso. Vade retro!

Nessa linha, tem outro clássico, mais antigo, (me preparando para a facada) que atende pelo nome de “Papel Machê”. João Bosco, que não sabe da minha existência, me perdoe, mas os volteios musicais dele nessa música me deixam com vontade de correr para o banheiro mais próximo.

Tocar o pau na icônica e rebelde “Pra Não dizer que não falei das flores” é, para mim, redundância. Sei da importância da contestação musical que virou hino contra a ditadura. Nem por isso consigo ouvir sem vontade de dar stop.

A mesma vontade e intenção eu tenho com uma de Caetano: Tieta, da trilha sonora do filme “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues. Como adoro Caetano, fiz de tudo para tentar gostar. Não deu! Mas a canção me persegue.

Era madrugada de um domingo de Carnaval, no circuito Barra-Ondina. Foi um alívio quando ouvi no fone que a transmissão daquele dia no SBT Folia, na TV Aratu, já estava acabando. Só que enxergo despontando lá no meio do circuito, quase chegando ao nosso camarote de trabalho, o Cortejo Afro. Em cima do trio vinham Alberto Pita, criador do bloco, a cantora Mariene de Castro e Caetano Veloso. Caetano é Caetano! E minha reação natural foi: vamos continuar! Caetano está na área.

Para dar tempo e preencher o vácuo, sem atração em frente ao camarote, enrolei um pouco, falando da programação, dos artistas que já tinham se apresentado no dia e sobre a expectativa da chegada do cortejo com Caetano. Claro que já me preparava para tentar uma entrevista ao vivo. Já tinha conversado com Bell, Ivete, Claudia, Durval, Xandy. Fechar uma transmissão de Carnaval com Caetano é beleza pura, gema de ouro da festa.

O Cortejo chega, para em frente, e levantamos a placa avisando que estávamos ao vivo. Silêncio carnavalesco. Se é que existe.

O que perguntar a Caetano? Penso e decido: nada. Ele já falou de tudo sobre o Carnaval. E é o que passo para ele. Peço para ele falar sobre o que quiser. O tempo, a voz e o microfone são todos seus, digo. Caetano se debruça “caetanamente” nos ombros de Alberto Pita e responde languidamente que tudo está “lindo e ótimo”. Insisto sobre a importância dele na história do Carnaval da Bahia, no encontro de trios na Castro Alves, na transformação da festa. “É tudo Bahia, é tudo lindo, é carnaval”.

Quase arrisquei um palpite sobre a situação política e econômica do país, os reflexos religiosos da crise no Oriente Médio. Sim! Eu sei, é Carnaval! Mas, Caetano é Caetano. Bateu o simancol. Já tava na medida.

Agradeço, fecho a entrevista, lembrando que ele está ao vivo e peço uma música. Na hora pensei, só não cante Tieta. Tem Chame Gente, Chuva, Suor e Cerveja, Massa Real, Atrás do Trio Elétrico, A Filha De Chiquita Bacana, o Hino do Bahia e tantas outras. Mas os primeiros acordes já anunciaram o que viria.

O refrão do Eta, Eta, Eta levantou o astral e foi repetido com toda força pela multidão. 

Ps: Gosto. Cada um tem o seu!
 

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